Uma das sessões da WebSummit, a MoneyConf, trouxe para a mesa as criptomoedas. Joseph Lubin, cofundador da Ethereum — a segunda mais bem cotada a seguir à Bitcoin — veio a Lisboa defender como “pode ser seguro investir em criptomoeadas" mas os especialistas em cibersegurança alertam que, para já, as transações não são seguras.
Joseph Lubin começa por descrever o surgimento das criptomoedas que em 2008 “Satoshi Nakamoto”, pessoa ou grupo, “inventou a Bitcoin juntamente com uma aplicação que lhe chamam de blockchain que é uma rede peer-to-peer tipo ‘base de dados de confiança’ diz o cofundador. Por último, “Satoshi criou uma terceira coisa que os economistas começaram a chamar por ‘criptoeconomia’”.
O empreendedor explica que a criptoeconomia junta esta base de dados com as pessoas permitindo a transação de valores de forma segura. A questão é que para a grande maioria dos economistas, este processo continua a deixar muitas dúvidas quanto à sua segurança mas Lubin defende o contrário: “em 2012, um grupo de pessoas incluindo eu, começou a desenvolver uma base de dados onde fosse possível criar uma plataforma que transmitisse confiança nas transações, não apenas de dinheiro mas de todo o tipo de aplicações online. Muitos de nós começamos a acreditar que era possível criar uma série de aplicações dentro da blockchain, aplicações de confiança, protocolos que tragam confiança às pessoas”.
O que pensam os peritos em cibersegurança
Os especialistas em cibersegurança afirmam que, por enquanto, o processo não é de todo seguro. A PROTESTE INVESTE conversou com o Chefe de Tecnologia (CTO) de uma das maiores empresas de cibersegurança e antivírus do mundo, a Avast. “Penso que é tudo muito excitante, toda esta inovação com a blockchain mas espero que seja criada regulação para tudo isto. Estamos ainda numa fase muito preliminar naquilo que poderá revolucionar o mercado financeiro, contudo existem graves problemas com a segurança. Como por exemplo, e infelizmente, estas moedas digitais estão também a ser utilizadas por criminosos, que as utilizam para crimes como o “ransomware”, onde os criminosos atacam os utilizadores ao encriptar os seus ficheiros pedindo dinheiro em troca para os "desbloquear" de novo.
Um crime que não é novidade, pois já se ouve falar nisto há 15 anos. O problema é que este crime tem tido mais sucesso, nos últimos dois anos, sobretudo por causa da facilidade nos pagamentos através de bitcoins cujo anonimato nas transações em criptomoedas torna praticamente impossível para as autoridades rastrear para onde vão esses pagamentos e chegar aos criminosos”, declara Ondrej Vlcek, CTO da Avast em exclusivo para a PROTESTE INVESTE.
Já anteriormente, tínhamos abordado o tema da utilização de índole criminal de uma criptomoeda que surgiu na Internet e alertámos para os riscos demasiado elevados do investimento nestas moedas virtuais.
O especialista em cibersegurança acredita que o “anonimato nas transações das criptomoedas será o maior problema em termos de segurança”. Segundo o manager da Avast, esta situação terá de ser retificada no futuro porque, "se não se sabe quem está a enviar ou a receber montantes avultados, poderão surgir grandes problemas". Perguntamos ao CTO da Avast se um dia investiria nas Bitcoins ao que respondeu “não ter a certeza se investiria pois como matemático e apesar de considerar a blockchain uma plataforma muito inteligente, ainda classifico o investimento muito arriscado”. Vlcek termina dizendo que atualmente “é muito perigoso investir em algo com um valor tão elevado e tão volátil”.
Em relação à especulação em torno das criptomoedas e da bolha financeira que continua a aumentar diariamente — a Bitcoin vale atualmente 7 mil dólares — Lubin defende “que é uma bolha positiva”. O canadiano afirma que o mundo da tecnologia está a evoluir de tal maneira que será inevitável parar os sistemas de partilha online. “Construimos a WEB 2.0 e criamos silos de sistemas colaborativos com redes de transação logística, monetária e todas as industrias vão poder criar as suas próprias infraestruturas — blockchain — de forma aberta e segura”, disse o cofundador da Ethereum na sua apresentação.
O que dizem os investidores
Num outro painel sobre a mesma temática, o investidor de risco norte-americano, Tim Draper, declarou que este tipo de investimento “não é para qualquer investidor” pois segundo ele “a segurança não consta no léxico das ICO. Se está a investir em ICO, o melhor é perceber na totalidade como funciona todo o ciclo: se vai acabar num token razoável, quem são as pessoas por trás, são credíveis, vão criar valor com esses tokens”, recomenda o investidor perante a plateia da arena. Draper mantém reservas quanto ao investimento em ICO e tokens mas reconhece que este novo processo vai transformar a sociedade e deu o exemplo do Japão que “já se manifestou totalmente aberto à transação e ao investimento em criptomoedas”.
No entanto, apesar de todo este otimismo em torno das criptomoedas, será melhor manter a prudência no que diz respeito ao investimento. Importante também seguir o conselho do engenheiro da Avast no que se refere aos “porta-moeadas” da bitcoin (por exemplo a bitcoin wallet). Os mesmos apresentam graves falhas de segurança e só por ter um instalado no seu telemóvel, quer seja Android ou IOS, “está a tornar-se num alvo fácil para todo o tipo de ataques associados às criptomoedas”. Para já, não há segurança, qualquer um pode “roubar essa carteira, basta procurar por ela e tirar todo o saldo que está lá e seguir para o próximo, sem deixar rasto”, concluí Vlcek.
Manuel Ribeiro