A Libertagia, empresa de serviços multimédia e que em agosto do ano passado foi alvo de um alerta de fraude por parte da Proteste Investe, anunciou em comunicado no seu site que pretende regressar.
Esta empresa, encabeçada por um português (Rui Salvador), fez manchetes em agosto de 2015 pois estaria por detrás de mais um esquema em pirâmide de grande dimensão. O escândalo rebentou em Espanha mas acredita-se que tenha deixado milhões de vítimas por todo o mundo.
Mais do mesmo?
Deve referir-se que é infelizmente frequente que, na sequência de uma fraude que afeta um grande número de vítimas, surjam novos esquemas visando o mesmo conjunto de vítimas, geralmente com o chamariz de prometer a recuperação do dinheiro perdido. Aconteceu com outras fraudes recentes em Portugal, como a Telexfree (Wings Network) ou Geteasy (Go2Up e VIConcept), e o número de vítimas da Libertagia torna-as um alvo apetecível. Portanto deve avaliar-se com sentido crítico esta notícia.
Desde logo parece insólito que um negócio legítimo retome uma marca manchada por uma fraude de grande dimensão. O bom senso ditaria que se utilizasse uma designação diferente. Além disso, a informação disponível sobre a Libertagia revelou que de negócio tinha muito pouco, além do recrutamento de membros, pelo que também por aí não haverá muito a recuperar.
Continua a ser usada uma linguagem hiperbólica, vaga, duvidosa. A dada altura, refere o comunicado que a Libertagia chegou “a mais 2,5 milhões de membros em mais de 160 países, membros esses que ajudaram a criar uma empresa com proporções jamais vistas.” Na esmagadora maioria dos casos por “membros” deve entender-se “vítimas”, o que deveria estar longe de constituir motivo de orgulho.
Refere-se também que será organizada “uma conferência de 12 líderes mundiais”. Na terminologia dos esquemas organizados como marketing multinível, “líder” refere-se em regra a membros com posições cimeiras na estrutura piramidal e que, com consciência ou não da verdadeira natureza do esquema, foram responsáveis por arrastar grandes números de membros. A 6 de junho, alegadamente serão já possíveis novos “cadastros”. Mais uma vez, não estamos a ver qualquer distanciamento em relação às anteriores práticas ilícitas da Libertagia.
Os pontos acima referidos não nos parecem um bom augúrio. Estaremos atentos a nova informação que venha a surgir, mas aconselhamos às vítimas da Libertagia para manterem o necessário ceticismo, e sobretudo que não arrisquem mais das suas poupanças, mesmo que lhes seja acenada a promessa de virem a recuperar o dinheiro anteriormente perdido.