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André
Gouveia, CFA
Analista financeiro independente, certificado pelo CFA Institute e registado na CMVM.
Mestre em Finanças pelo ISEG.
Primeiro ETF sobre Bitcoin já pode ser negociado
Há 6 meses - 25 de outubro de 2021
André
Gouveia, CFA
Analista financeiro independente, certificado pelo CFA Institute e registado na CMVM.
Mestre em Finanças pelo ISEG.
A Securities and Exchange Commission (SEC) deu luz verde, a ProShares lançou na bolsa de Nova Iorque e os investidores aderiram ao primeiro ETF sobre Bitcoin cotado na principal praça americana (já existiam fundos): o ProShares Bitcoin Strategy ETF (ISIN US74347G4405, ticker BITO).
A excitação no mundo “cripto” tem sido muita, com a Bitcoin a fazer novos máximos, valorizando cerca de 50% no último mês e arrastando como habitual as restantes criptomoedas. Ganhos de 41% para a Ethereum e 60% para a Polkadot. A Cardano, muito em voga até há algumas semanas atrás, passou um pouco ao lado dos ganhos (+3,5%).
O ETF propriamente dito começou a cotar na terça-feira e, após 3 sessões, perdia 2,65%, enquanto no mesmo período a Bitcoin valorizou cerca de 9,5%.
ETF sobre Bitcoin não tem bitcoins
O principal dado a reter é que este ETF não investe diretamente em bitcoins. O investimento será feito através de instrumentos financeiros derivados, contratos de futuro sobre a Bitcoin.
Tem portanto alguns riscos acrescidos que não existem ao investir diretamente em bitcoin e que por isso podem fazer o valor do ETF e da Bitcoin divergir. Esta divergência agrava-se, por exemplo, devido à falta de capacidade no mercado de futuros e/ou falta de liquidez (estes são contratos relativamente recentes, refira-se), bem como devido à volatilidade adicional (em cima de um ativo que já é dos mais voláteis que existem) e à divergência entre o valor líquido do fundo e a sua cotação (por outras palavras, o ETF ser negociado por mais ou menos do que valem os investimentos que o compõem).
O ETF tem uma comissão de gestão de 0,95%, um custo elevado que está bastante acima do valor médio para estes instrumentos de custos tipicamente baixos – a ProShares aqui a tirar partido da exclusividade.
Já é possível negociar o ProShares Bitcoin nas corretoras que utilizam a plataforma do Saxo Bank, como é o caso do Banco Carregosa, Banco Invest, BEST, BIG ou Montepio Trader.
Investir através de ETF ou comprar bitcoins?
Temos usado a metáfora do “ouro digital” como forma de abordar o investimento em Bitcoin, mas este é um ponto em que diferem muito!
Pois, se no caso do ouro (ou outras commodities) os ETF resolvem muitos dos problemas relacionados com o armazenamento físico dos bens, no caso de um ativo totalmente digital como a Bitcoin essa vantagem praticamente desaparece.
É certo que se recorrer a este ETF não tem de preocupar-se com a gestão das chaves privadas (se quiser deter pessoalmente as bitcoin) ou com a capacidade da bolsa de criptomoedas em manter as criptomoedas seguras, mas desde que recorra a entidades credíveis para armazenar as suas criptomoedas, é uma vantagem muito ligeira.
Se quer mesmo especular na área, por um lado, recomendamos que deverá limitar-se apenas a fazer pequenas compras para que o seu património não fique demasiado exposto a um risco que consideramos excessivo. Por outro, parece-nos ser preferível deter diretamente criptomoedas e não pagar uma comissão de gestão de um ETF que só investe num ativo, e de forma derivada.
Até do ponto de vista fiscal: enquanto a Autoridade Tributária mantém que os ativos digitais não estão previstos nos códigos fiscais e não são tributados, o ETF é um valor mobiliário e como tal está sujeito a tributação.
Mas há outro cenário: quem quiser negociar intensivamente (o que não recomendamos), pode preferir fazê-lo, de facto, através deste ETF, devido aos custos. Nas bolsas americanas, adquirir ETFs pode custar zero ou até 0,3% do valor da ordem, em certas corretoras, enquanto que nos mercados ainda pouco desenvolvidos das criptomoedas, as comissões para aquisição de criptomoedas em plataformas como a Coinbase ou Revolut rondam os 2,5%. Como a comissão de gestão é menos relevante para quem detém a curto prazo, o ETF é muito mais eficiente em termos de custos.
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