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Jorge
Duarte
Analista financeiro independente registado na CMVM.
Licenciado em Economia pelo ISEG.
Membro da Ordem dos Economistas.
Imobiliário: preços altos até quando?
Há 3 meses - 2 de novembro de 2022
Jorge
Duarte
Analista financeiro independente registado na CMVM.
Licenciado em Economia pelo ISEG.
Membro da Ordem dos Economistas.
Os proprietários de habitação própria ou investidores em imobiliário têm (ainda) razões para festejar. De acordo com dados da OCDE, entre 2011 e 2021, a valorização média anual dos imóveis, nos países membros desta organização, foi de 5,1% em termos nominais. Se, nesse período, se descontar o impacto da inflação, o ganho real médio anual foi de 3,2%, ou seja, 37% numa década.
Entre os países que selecionámos para apresentar no quadro, em termos nominais, todos registaram subidas. Apenas o Brasil e a Espanha sofreram um recuo dos preços reais, embora reduzido no caso do país vizinho. Em terras de Vera Cruz, a inflação elevada foi o elemento decisivo para o resultado mais negativo (-5,3 por cento).
Portugal acima da média
No nosso país, a evolução real dos preços (4,1% ao ano) ficou acima da média da OCDE (3,2 por cento). Superou, claramente, a média da zona euro (1,6%), e até mais do que a subida observada na Austrália (3,7 por cento). Recorde-se que, neste país, a forte subida dos preços e o endividamento das famílias para a compra de casa têm sido das principais preocupações das autoridades de Sydney perante a subida dos juros, que já se iniciou há mais tempo na Austrália. Trata-se de uma experiência importante para Portugal.
Suécia e Canadá são outros dois países onde o mercado imobiliário tem vivido uma grande euforia e, por isso, mais expostos à nova realidade de juros elevados.
Os ventos que sopram dos EUA
O destaque vai para os Estados Unidos, que registou, entre a nossa seleção de países, o maior ganho real (5%), e mesmo um dos mais elevados em termos nominais (6,7 por cento). Significa que, numa década, o preço dos imóveis quase duplicou.
O setor imobiliário sempre foi muito dinâmico e importante para as famílias e a economia norte-americanas. Tão importante que os seus excessos quase levaram ao colapso do sistema financeiro mundial, com a crise do subprime em 2008. Antes dessa crise, os bancos concediam financiamento mesmo a quem não tinha condições para pagar, pois a desejada valorização dos imóveis permitiria cobrir os riscos. Muitos americanos aproveitaram para comprar várias casas… até que a bolha rebentou com graves consequências para os EUA – e o mundo.
Perspetivas sombrias
Nos últimos meses, as subidas dos juros nos EUA, e agora também na zona euro, acabaram com o eldorado do financiamento barato. O presidente da Reserva Federal (Fed), Jerome Powell, já alertou para o impacto negativo no setor imobiliário.
Nas últimas semanas, a palavra recessão no setor imobiliário tem sido referida por vários órgãos de comunicação. Não se espera uma crise como a do subprime, mas uma queda real, e mesmo nominal, dos preços é inevitável.
A sua dimensão e duração dependerá das decisões do Fed em matéria de juros. Estes dependem, por sua vez, do comportamento da inflação.
Os restantes países não escaparão a um fenómeno idêntico. A subida dos juros impacta direta e indiretamente no setor, porque provoca um abrandamento geral da atividade. As famílias têm menos capacidade de compra, e os investidores outras alternativas possibilitadas pelo nível mais elevado dos juros.
Recomenda-se cautela
Neste contexto, o investimento em imobiliário é pouco recomendável. É mais prudente aguardar alguns trimestres até que os mercados digiram a nova realidade e os preços se ajustem. Nessa altura, se tiver liquidez, poderá “entrar” num nível bastante mais interessante.
Claro que, mesmo assim, não terá garantias de que a turbulência cesse. Terá de ser paciente e prescindir da liquidez. A aposta direta em imóveis permite ser muito seletivo, mas exige elevados montantes que não pode, facilmente, reaver.
Quanto ao investimento via fundos do setor imobiliário, de momento, também é aconselhável ficar afastado.
Variação média dos preços dos imóveis por ano entre 2011 e 2021
Real | Nominal | |||
---|---|---|---|---|
Estados Unidos | 5,0% | 6,7% | ||
Suécia | 4,5% | 5,9% | ||
Portugal | 4,1% | 5,2% | ||
Índia | 3,9% | 9,4% | ||
Austrália | 3,7% | 5,4% | ||
Suíça | 3,6% | 3,4% | ||
OCDE (média) | 3,2% | 5,1% | ||
Reino Unido | 3,0% | 4,4% | ||
China | 3,0% | 5,2% | ||
México | 2,2% | 6,7% | ||
Japão | 1,6% | 1,9% | ||
Zona euro | 1,6% | 2,8% | ||
Espanha | -0,3% | 0,6% | ||
Brasil | -5,3% | 0,9% | ||
A evolução real tem em conta a inflação em cada país. Fonte: OCDE. |
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