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Jorge
Duarte
Analista financeiro independente registado na CMVM.
Licenciado em Economia pelo ISEG.
Membro da Ordem dos Economistas.

Em colaboração
com:
Euroconsumers
Eleições com pouco impacto na economia norte-americana
Há 2 meses - 15 de novembro de 2022
Jorge
Duarte
Analista financeiro independente registado na CMVM.
Licenciado em Economia pelo ISEG.
Membro da Ordem dos Economistas.

Em colaboração
com:
Euroconsumers
O esperado tsunami Republicano nas eleições americanas (midterms) a 8 de novembro não se concretizou.
Embora os resultados finais ainda não sejam totalmente conhecidos na íntegra, tudo indica que os republicanos reconquistaram a Câmara dos Representantes, mas não de forma esmagadora e os democratas de Joe Biden mantiveram o controlo do Senado.
Após menos de dois anos à frente do Congresso e da Casa Branca, os democratas terão agora de partilhar o poder.
Basicamente, o processo legislativo ficará num impasse, pelo menos, até às eleições presidenciais em novembro de 2024. Qual o impacto deste novo cenário na economia e nos mercados financeiros?
Gastos públicos serão congelados
Desde que assumiu o cargo, Joe Biden lançou dois programas para suportar a economia.
O American Rescue Plan de 2021 despejou cerca de 1,9 biliões de dólares numa economia americana em expansão após o fim dos confinamentos da pandemia, estimulando o consumo para recordes, o que impulsionou mais a inflação.
Para contrariar esse efeito, mas também para melhorar as hipóteses de uma vitória para os democratas nestas eleições, avançou, em agosto, com o Inflation reduction Act (Lei de Redução da Inflação).
Com a Câmara dos Representantes controlada pelos Republicanos mudam as regras do jogo. Fiscalmente mais conservadores, especialmente quando o ocupante da Casa Branca é hostil, vão travar uma nova injeção de dinheiro na economia, pelo menos até às presidenciais de 2024.
Esta mudança surge num momento delicado. O crescimento regressou no terceiro trimestre, mas a inflação permanece muito elevada, pelo que a queda do poder de compra e o maior custo do crédito preconizam dificuldades para 2023 e uma possibilidade de recessão.
Durante cerca de duas décadas, Washington e a Reserva Federal vieram salvar a economia em momentos difíceis. Agora, com a Fed a lutar contra a inflação e a Casa Branca sem o apoio do Congresso, a economia e os mercados financeiros dos EUA ficarão, portanto, entregues a si próprios.
No entanto, é algo que não desagrada a todos, especialmente àqueles que acreditam que a omnipresença da Fed distorce os preços e que Washington só atrapalha.
Elon Musk até apelou ao voto nos Republicanos com a justificação de “equilibrar” o poder e, provavelmente, porque os Democratas também seriam mais propensos a um aumento da carga fiscal dos bilionários americanos.
Dívida dos EUA não encolhe
É claro que os mercados obrigacionistas deveriam congratular-se com a perspetiva de uma política monetária mais saudável. 2020 e 2021 foram marcados por défices orçamentais extremamente elevados (14,9% e 16,7% do PIB, respetivamente) e empurraram o peso da dívida pública para 137,2% do PIB em 2021 (106,8% em 2019).
Este ano, o défice deverá ainda ultrapassar os 6% do PIB. O Congresso na mão dos Republicanos seria uma boa notícia, mas a realidade é complexa.
Os republicanos vão opor-se a despesa pública adicional, mas também ao aumento de impostos sobre as empresas que Biden queria para equilibrar as contas públicas.
Assim, a trajetória da dívida pública pode vir a deteriorar-se ainda mais. Apesar disso, com uma yield em torno de 4%, a dívida soberana dos EUA é, cada vez mais, atrativa e é recomendada no âmbito das nossas carteiras.
Impacto global
Não é só ao nível das finanças públicas que é provável que se multipliquem os bloqueios. Os Republicanos estão relutantes em introduzir novos constrangimentos que possam penalizar as empresas e a economia.
Também se preocupam menos com o que o resto do mundo. Por conseguinte, as questões do ESG, climáticas e a transição energética não estarão entre as prioridades legislativas da Câmara dos Representantes. Na melhor das hipóteses, será o imobilismo nos próximos anos.
Outra grande incógnita é o conflito na Ucrânia. Há Republicanos que são favoráveis a uma redução do apoio americano à Ucrânia, uma vez que Donald Trump defende negociações para pôr fim ao conflito.
A Europa pode beneficiar de uma solução negociada ou então dar a maior parte do apoio militar e financeiro a Kiev. Estas eleições podem, portanto, determinar o resultado do conflito e a sua duração.
Conselho
Seja em termos de tecnologia, independência energética, hegemonia financeira e militar, os Estados Unidos possuem trunfos únicos e Washington não hesita em usá-los para atingir os seus fins.
Por isso, e tendo em conta que não há alternativas particularmente mais interessantes, deve ter exposição à maior economia do mundo.
As bolsas norte-americanas estão mais bem posicionadas para ganhar terreno no próximo ciclo dos mercados, o qual surgirá antes da economia dar a volta.
Confira os nossos conselhos de investimento em fundos de ações dos Estados Unidos.
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