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- Inflação pode obrigar bancos centrais a mudar o rumo

Jorge
Duarte
Analista financeiro independente registado na CMVM.
Licenciado em Economia pelo ISEG.
Membro da Ordem dos Economistas.

Em colaboração
com:
Euroconsumers
Inflação pode obrigar bancos centrais a mudar o rumo
Há um ano - 3 de novembro de 2021
Jorge
Duarte
Analista financeiro independente registado na CMVM.
Licenciado em Economia pelo ISEG.
Membro da Ordem dos Economistas.

Em colaboração
com:
Euroconsumers
Desde a crise financeira de 2008-2009, os bancos centrais têm sido o pilar de suporte das economias e tornaram-se ainda mais importantes com a pandemia.
Com muitos países sem margem de manobra orçamental para lidar com as crises, foram os bancos centrais a assumir a maior parte do esforço de recuperação.
Para assegurar acesso barato a crédito abundante baixaram as taxas de juro diretoras para níveis nunca vistos.
E alguns foram mais longe, com extensos programas de compra de ativos financeiros que permitiram aos governos beneficiar de dinheiro a baixo custo, apesar dos elevados níveis de dívida pública.
Nova fase à vista
É este apoio inabalável à economia durante a pandemia que terá de ser revisto. Muitas famílias conseguiram poupar durante o confinamento e têm meios para consumir. Alguns governos, como o norte-americano, enviaram ainda cheques às famílias.
Acresce a onda de investimento para melhorar as infraestruturas e apostar na transição verde.
O mundo enfrenta uma enorme onda de procura, enquanto a oferta só aumenta gradualmente. O resultado é a inflação nos níveis mais elevados dos últimos anos.
No início, vista como transitória, a inflação está gradualmente a enraizar-se e obriga os bancos centrais a repensarem a estratégia.
O desafio é grande: abrandar a procura que têm vindo a tentar estimular desde há anos, sem causar um colapso da economia e dos mercados financeiros.
Estratégias divergentes
Quando confrontados com este desafio, os bancos centrais adotam diferentes estratégias.
Uns, preocupados com o avanço inflacionista, planeiam aumentar as taxas diretoras o mais rapidamente possível, como o Banco de Inglaterra. As taxas britânicas nos prazos mais curtos já estão a subir.
O mesmo fenómeno acontece nos Estados Unidos, apesar da postura mais cautelosa da Reserva Federal.
Não se prevê uma primeira subida das taxas diretoras americanas antes do segundo semestre de 2022. Até lá, a Fed prevê somente reduzir as compras mensais de dívida, mantendo sob vigilância os mercados.
O Banco Central Europeu redefiniu, recentemente, o seu objetivo de estabilidade dos preços (inflação de 2% a médio prazo).
O facto é que não o conseguiu alcançar desde a crise financeira. Agora, com a inflação nos 3,4% na zona euro, enfrenta um situação rara.
Perante as opções, o BCE deverá reformular as suas compras de dívida, mas um aumento das taxas diretoras é improvável antes de 2023.
Impacto nos investimentos
Os riscos da nova fase da política monetária são elevados. De facto, as bolsas continuam a apostar num crescimento económico sólido e os mercados obrigacionistas permanecem ainda interessados em financiar as economias com taxas de juro bastante baixas.
Será que os bancos centrais poderão agradar a todos? É improvável. Para evitar sobressaltos, o investidor deve manter uma boa diversificação.
Nas carteiras recomendadas de fundos continuamos expostos aos mercados de obrigações de ambos os lados do Atlântico.
Diversificamos igualmente a componente de ações apostando noutros mercados, menos em voga mas bem promissores (Suécia, Suíça, Canadá, Japão, Coreia do Sul, China e Rússia).
Quanto às ações dos EUA, dado o seu nível de valorização já elevado, estão apenas incluídas na carteira agressiva.
Inflação: o que esperar?
O risco de uma inflação elevada e sustentada é reduzido. Na maioria dos países ocidentais tenderá, mais cedo ou mais tarde, a regressar à normalidade.
No entanto, há riscos que não podem ser negligenciados.
A transição energética é suscetível de afetar a inflação a médio e longo prazo. Primeiro, porque impactará no custo da energia na Europa e nos Estados Unidos. Segundo, porque a transição será seguida noutros países, como a China, com custos mais elevados do que no passado.
Em suma, no Ocidente, o longo período de inflação muito baixa e aquém do desejável vai terminar. Mas significa que os bancos centrais alcançarão mais facilmente os seus objetivos e não um descontrolo dos preços.
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