A 3 de novembro, os norte-americanos terão de decidir entre Donald Trump e Joe Biden para ocupar a Casa Branca. Mas será que a agenda do Presidente para os próximos anos terá consequências importantes nos mercados?
Trump e Biden: o que os separa
O democrata Biden apresenta-se como consensual, nos antípodas do estilo incendiário de Trump. Além de diferentes personalidades, os dois candidatos estão totalmente em desacordo em várias questões importantes.
- A diferença mais visível é a gestão da pandemia. Biden quer uma resposta coordenada a nível federal e medidas fortes para conter o coronavírus. Trump, agora também infetado com covid, é um defensor do laissez faire para não penalizar a atividade económica e são as autoridades locais que lidam com a pandemia.
- No que diz respeito à imigração, os dois candidatos também não estão alinhados. Durante 25 anos, cerca de um milhão de imigrantes entrava nos Estados Unidos todos os anos. Trump reduziu para metade esse valor com a sua política restritiva. Para salvaguardar o dinamismo demográfico dos EUA e evitar uma escassez de mão-de-obra a médio prazo, Biden quer remover essas restrições rapidamente.
- O candidato democrata também quer uma abordagem mais pragmática do comércio. Tal como Trump, Biden quer reequilibrar a balança comercial americana e manter a pressão sobre a China. Biden defende ainda conversações mais serenas com outros grandes parceiros comerciais dos EUA. A redução do défice exige também uma melhoria da competitividade.
- Biden quer reverter grande parte dos cortes de impostos que Trump concedeu às empresas e aos mais ricos. Uma medida que permitirá ajudar as famílias de baixo e médio rendimento e assegurar parte do financiamento para um pacote abrangente de estímulos.
Consequências económicas
A 3 de novembro, a Casa Branca não é a única questão eleitoral. Toda a Câmara dos Representantes e um terço do Senado estão também em jogo. Nada garante que o mesmo partido ganhe a Presidência e a maioria nas duas câmaras do Congresso. E nem Trump conseguiu cumprir todas as suas promessas, apesar da dupla maioria republicana no Congresso durante os dois primeiros anos do seu mandato. É que mesmo em caso de total apoio parlamentar, o Presidente tem de contentar as diferentes sensibilidades dentro do seu próprio partido.
No entanto, e de acordo com estudos independentes, uma presidência de Biden geraria mais empregos e crescimento nos próximos anos, graças ao seu enorme pacote de estímulos. Inclui avultados investimentos em infraestruturas e na investigação para garantir a liderança tecnológica.
Graças ao forte aumento da despesa pública de Biden, o crescimento anual do PIB seria, em média, superior a 4% e geraria mais de 16 milhões de empregos nos próximos quatro anos. Com a criação de apenas 9 milhões de novos postos de trabalho e um crescimento estimado de 3%, a implementação do programa de Trump impulsionaria menos a economia americana.
No limite da indiferença
A eleição presidencial gera nervosismo nos mercados financeiros. Por um lado, a ação política está agora parada em Washington, enquanto algumas medidas seriam bem-vindas para apoiar uma economia americana atormentada pela crise. Por outro, os investidores receiam um cenário como em 2000, quando o vencedor da votação de 7 de novembro só foi oficialmente conhecido a 12 de dezembro, após uma novela legal.
Apesar disso, a eleição presidencial deverá ter pouco impacto a longo prazo nos mercados dos EUA. A análise que prevê a criação de 16 milhões de postos de trabalho com Biden, contra apenas 9 milhões para Trump, estima que a bolsa norte-americana estará, dentro de dez anos, ao mesmo nível em ambos os casos!
Se a agenda de Biden é mais pró-crescimento, o que é positivo para as empresas e para a bolsa, também prevê o aumento da tributação das empresas, o que pesará sobre os seus lucros e a sua avaliação em bolsa. As famílias ricas, que investem mais em ações, também serão mais tributadas.
Impacto neutro
A neutralidade a longo prazo da eleição presidencial na bolsa também se deve às garantias oferecidas pelas várias instituições americanas. O Presidente, por si só, não pode mudar radicalmente o enquadramento da economia dos Estados Unidos.
Por isso, a escolha do Presidente para os próximos quatro anos tem implicações para os americanos em algumas áreas mas, para os mercados financeiros, será neutro a longo prazo.
Com um dólar sobrevalorizado, o potencial das ações dos EUA é agora relativamente limitado. Permanecem presentes apenas na nossa carteira agressiva.
Ao invés, as obrigações em dólares continuam suportadas pelas compras da Reserva Federal e constituem uma boa diversificação, dado o seu papel como valor de refúgio. Por isso, estão presentes nas três carteiras recomendadas.