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Jorge
Duarte
Analista financeiro independente registado na CMVM.
Licenciado em Economia pelo ISEG.
Membro da Ordem dos Economistas.
Investir no nuclear com fundos ETF
Há 3 meses - 28 de janeiro de 2022
Jorge
Duarte
Analista financeiro independente registado na CMVM.
Licenciado em Economia pelo ISEG.
Membro da Ordem dos Economistas.
A desconfiança da energia nuclear nasceu do desastre de Chernobyl, em 1986, e foi reforçada pela tragédia de Fukushima, em 2011. Desde a crise financeira de 2008, o preço do urânio, matéria-prima essencial para a energia nuclear, esteve em declínio quase permanente e até bastante acentuado. De 140 dólares caiu para menos de 20. Nos últimos tempos, porém, renasceu o interesse por esta fonte de energia, que está agora acima dos 40 dólares por libra (cerca de 453 gramas).
O Presidente francês anunciou um plano de investimento de mil milhões de euros para pequenos reatores nucleares de nova geração. O Governo britânico também pretende direcionar os investimentos para a energia nuclear. Até Bill Gates, que tem apostado na tecnologia ligada a esta nova geração de pequenos reatores nucleares, está rendido.
Quanto à China, comprometeu-se a construir 150 novos reatores nucleares para atingir a neutralidade carbónica até 2060.
Foram igualmente criadas holdings dedicadas à compra e detenção de urânio, como a Sprott Physical Uranium Trust, no Canadá, e a ANU Energy OEIC, no Cazaquistão. As suas compras ajudaram a puxar para cima as cotações do urânio.
A corrida ao urânio
O elevado “apetite” por esta matéria-prima é justificado, em primeiro lugar, pela elevada procura de energia na ressaca dos confinamentos da pandemia. Em segundo lugar, vários países, sobretudo europeus, querem diversificar as fontes de energia e diminuir a dependência do gás natural da Rússia.
Mas, acima de tudo, discute-se o papel que a energia nuclear pode desempenhar na transição energética, por ser menos poluente do que os combustíveis fósseis (petróleo e gás). Esta é a grande incerteza. Há quem realce que o nuclear envolve baixas emissões de carbono e é essencial para atingir os objetivos de redução de gases com efeito de estufa. Outros defendem que não pode ser considerado “verde” pelo elevado consumo de água e o risco de contaminação associado à eliminação de resíduos.
A grande batalha joga-se a nível europeu. Apesar do parecer contrário da Plataforma de Finanças Sustentáveis da União Europeia, a Comissão Europeia incluiu, no final de dezembro de 2021, o gás natural e o nuclear na chamada “taxonomia verde”, documento oficial que define o que pode ser considerado sustentável ou não.
Iniciou-se agora um período de consulta. A França lidera um grupo de 15 países que defendem a energia nuclear como fonte de energia sustentável. Em sentido inverso, a Alemanha e a Áustria, entre outros Estados, querem que fique de fora. Após Fukushima, Angela Merkel anunciou o fecho das centrais alemãs a médio prazo.
O resultado de uma aposta no nuclear vai depender, em parte, da decisão europeia. Se for oficialmente considerado uma fonte sustentável, o preço pode subir, dado o aumento da procura.
Em suma, se o nuclear está em conformidade com os seus princípios éticos ou de sustentabilidade, pode apostar no urânio e na energia nuclear. Mas é um investimento muito arriscado, sobretudo ao nível das empresas de extração. Nunca aplique mais de 5% do seu portefólio a este tipo de investimento.
Preço do urânio recupera
Dois ETF ligados ao nuclear
O Global X Uranium ETF centra-se nas empresas de extração do minério. O Canadá é o mercado privilegiado, representando cerca de 44% da carteira. Segue-se a Austrália, com 14%, e o Cazaquistão, com 10% devido à Kazatomprom. Estes três países são os maiores produtores mundiais.
O ETF conseguiu ganhar uns impressionantes 66,88% nos últimos doze meses. Contudo, muitas das empresas detidas não conseguiram registar lucros. A aposta dos investidores é, por isso, de um forte ritmo de crescimento no futuro. Uma expectativa que pode, contudo, sair gorada, caso o nuclear não assuma um papel importante na transição energética.
O VanEck Uranium+Nuclear Energy ETF tem uma abordagem mais abrangente. As empresas com maior peso na carteira não são mineiras, mas utilities (84%) ligadas à produção de eletricidade com recurso ao nuclear, e sobretudo ativas nos Estados Unidos (51%). A fonte de receitas é relativamente estável e os rácios bolsistas são menos elevados. No entanto, o potencial de crescimento é mais reduzido. Ainda assim, o ETF valorizou 20,8% nos últimos doze meses. Será uma aposta menos arriscada, mas também de menor potencial.
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