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- Investidores perdem interesse nas criptomoedas?

Tiago
Martins
Economista
Mestre em Economia Monetária e Financeira pelo ISCTE-IUL.

Em colaboração
com:
Altroconsumo Investi
Investidores perdem interesse nas criptomoedas?
Há 3 meses - 18 de outubro de 2022
Tiago
Martins
Economista
Mestre em Economia Monetária e Financeira pelo ISCTE-IUL.

Em colaboração
com:
Altroconsumo Investi
Nos últimos tempos não houve notícias que animassem os mercados, sobretudo desde a grande notícia de setembro referente à alteração do mecanismo da Ethereum, com a sua transição de moeda de prova de trabalho (“proof of work”) para prova de participação (“proof of work”). No entanto, mesmo essa notícia não levou a grandes oscilações nos mercados.
Uma observação que pode ser interessante é que, de acordo com uma pesquisa realizada pelo “Bankrate” (um serviço de comparação americano), o interesse no investimento em criptomoedas caiu em relação há um ano. Se antes as criptomoedas eram investimentos atrativos para cerca de metade dos “millennials” (são os nascidos entre 1981 e 1995), hoje interessam a menos de um terço.
Há diminuições semelhantes de interesse nas gerações anteriores: hoje, menos de um quinto da geração X (os nascidos entre 1965 e 1980) sentem-se à vontade para investir em criptomoedas, quando há um ano era um terço. Entre os “baby boomers”(os nascidos entre 1946 e 1964) essa percentagem caiu, de cerca de 20% para cerca de 10%.
Finalmente, mais de um terço da geração Z (detetada pela primeira vez este ano) parece estar interessada em criptomoedas. O número é ainda inferior ao registado para os “millennials” há um ano, mas dado que a geração Z é composta pelos nascidos entre 1997 e 2012, confirma que as criptomoedas ainda parecem ter um potencial futuro entre os mais jovens, pelo menos, de acordo com os últimos humores (voláteis) dos entrevistados.
A volatilidade das ações aumenta: um risco acrescido para as criptomoedas?
Neste contexto de menor interesse pelas criptomoedas, notamos também que a volatilidade dos mercados de ações, na sequência das notícias macroeconómicas recentes (inflação elevada, taxas de juro em alta) aumentou. Nos períodos em que a volatilidade foi maior, as criptomoedas, não se saíram bem. Por outras palavras, quando os mercados estão nervosos, o interesse em criptomoedas parece diminuir.
Mesmo que este fenómeno não se tenha manifestado com uma força indiscutível, mas apenas de forma a indicar uma tendência geral, parece-nos um sinal interessante que confirma ainda mais a prudência com que há muito temos indicado que deve olhar para o mundo das criptomoedas, sugerindo que não invista nele a menos que esteja disposto a especular e desde que aceite um risco muito elevado. Em particular, quando mostrámos que as condições que geralmente levam a um boom da bitcoin não estão próximas.
Para concluir... novidades na frente regulatória?
A OCDE (Organização para Cooperação e Desenvolvimento Económico), órgão internacional com sede em Paris que lida com a coordenação das principais economias mundiais, anunciou a apresentação de um esquema de troca automática de informações entre países sobre o tema dos criptoativos. Em poucas palavras, mais cedo ou mais tarde os principais países do mundo poderão convergir para as regras de troca de informações como já fazem com outros produtos financeiros.
O esboço de um projeto de regulamentação sobre atividades "cripto" foi passado para a comissão competente do Parlamento Europeu. É um texto legislativo longo de 126 artigos que deve ajudar a entender como os legisladores de todo o mundo podem vir a atuar nos próximos anos.
O faroeste do mundo cripto parece estar a passar por uma "normalização" e isso, para o bem e para o mal, também pode ter consequências na vida futura dos valores das criptomoedas.
Por cá, o Governo apresentou a sua proposta de Orçamento do Estado de 2023 que inclui uma proposta para a tributação de criptoativos. Esta proposta prevê a tributação em sede de IRS para ativos detidos por período inferior a um ano.
Sempre dissemos que não há razão nenhuma que justifique que as mais valias obtidas com os criptoativos, sem ser no âmbito profissional ou empresarial (estas já são tributadas), beneficiassem de uma lacuna na lei para usufruírem de facto de um regime fiscal de exceção ficando isentos de tributação. Enquanto, por exemplo, as mais valias de valores mobiliários como as ações ou os fundos de investimento mobiliário são taxadas a 28%, independentemente do tempo durante o qual são detidos. Por isso, saudamos a proposta incluída no OE de 2023, mas consideramos que o mesmo regime de isenção de mais valias após a detenção dos criptoativos por períodos que igualem ou excedam os 12 meses deveria também ser aplicado às mais valias dos valores mobiliários e restantes ativos financeiros.
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