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André
Gouveia, CFA
Analista financeiro independente, certificado pelo CFA Institute e registado na CMVM.
Mestre em Finanças pelo ISEG.
Memes não são investimento
Há um ano - 4 de novembro de 2021
André
Gouveia, CFA
Analista financeiro independente, certificado pelo CFA Institute e registado na CMVM.
Mestre em Finanças pelo ISEG.

Há todo um movimento de investir em criptomoedas menos conhecidas antes que disparem. As dog coins são um bom exemplo.
Foi notícia esta semana que uma criptomoeda alusiva à série fenómeno da Netflix “Squid Game” colapsou, com os investidores a perderem o dinheiro investido. Era um token que prometia servir para um jogo baseado na série coreana. Um token, recorde-se, é um criptoativo que funciona usando a blockchain de uma criptomoeda. Fáceis de criar, a maioria funciona na rede Ethereum. À medida que se vai sabendo mais informações, parece que se tratou de um esquema desonesto aproveitando a euforia em torno das criptomoedas e a popularidade da série. O token teve uma valorização súbita: no dia 1, o preço subiu de 89 dólares para mais de 2800 dólares em pouco mais de três horas, para cair mais de 99% em… 5 minutos. Os promotores parecem ter abandonado o projeto e desaparecido com os ganhos.
Este é um exemplo extremo, por se tratar aparentemente de uma fraude premeditada, havendo inclusivamente sinais de alerta. Mas insere-se num tipo de especulação pouco avisada que está a tomar de assalto o mundo cripto. Como as grandes criptomoedas já têm um valor que não possibilita valorizações de 1000% em pouco tempo, como acontecia no passado, há todo um movimento de investir em criptomoedas menos conhecidas antes que disparem, independentemente dos seus méritos. O que interessa é que entrem na moda e ganhem “momentum”.
Não há exemplo melhor do que as dog coins: após o sucesso da Dogecoin, surgiu uma multitude de cópias, com nomes baseados num mix de raças caninas (com a Shiba Inu, do Doge original, em destaque), Elon Musk e muito hype.
Mas podemos citar também a Floki, que adotou o nome do cão de Elon Musk e na semana passada publicou anúncios no metro de Londres. A intenção de colar-se à Dogecoin e apelar à ganância não é disfarçada, com o slogan “Missed Doge? Get Floki” (“Perdeste [os ganhos da] Doge? Compra a Floki”). É um prática completamente irresponsável: mesmo quando um investimento é meritório, divulgá-lo de forma simplista junto do público em geral sem considerações de divulgação de informação, perfil dos investidores, entre outros, tem tudo para correr mal.
Fonte: Coinmarketcap
Inovadores versus meros oportunistas
A interpretação mais benévola é que as cripto estão num permanente concurso de popularidade para tentar atrair utilizadores. Mas infelizmente, em muitos casos, aproximamo-nos de um esquema de pump & dump.
O esquema é simples: cria-se um criptoativo sem grande investimento, copiando o código de outra criptomoeda ou criando um “token” baseado numa rede como a Ethereum, e procura-se promovê-lo ao máximo (o “pump”). Como os criadores se podem auto-atribuir milhões de unidades, até ínfimas valorizações são suficientes para gerar fortunas, sendo a questão se os maiores detentores vão vender mais ou menos depressa as suas unidades (o “dump”).
Não se pode afirmar que sejam inúteis: são cópias de outras cripto mais sérias (ou funcionam sobre outra rede, no caso dos tokens) e portanto são perfeitamente funcionais. E dos seus proponentes ouvimos declarações hiperbólicas em como vão dominar o mundo e ninguém vai vender as suas unidades (“hodl” e “to the moon!”, os gritos de guerra habituais).
Mas criar criptos é fácil – é por isso que há milhares. Conseguir ser relevante a prazo é muito mais difícil, sobretudo se são meras cópias que fazem todas o mesmo. É por isso que a maior parte destes milhares terá inevitavelmente de ficar condenado à obscuridade.
Mesmo entre a comunidade cripto há cada vez mais vozes críticas destas práticas, que roubam recursos e atenção de outros projetos mais meritórios e têm outros impactos indesejáveis. A proliferação de tokens na blockchain Ethereum (criados com o protocolo ERC 20) é um dos fatores que está a contribuir para a sobrecarga da rede, que em determinados momentos chega a demorar horas a validar transações e com as comissões a chegarem a muitas dezenas ou até centenas de euros.
Brinque com memes mas invista no valor
Na Proteste Investe, analisamos investimentos, a atividade de colocar capital onde pode criar valor e depois recolher os seus frutos.
A blockchain é uma tecnologia potencialmente transformadora, e procuramos encontrar formas de apostar através de empresas e fundos.
Mesmo entre as criptomoedas, começam a ser visíveis mecanismos para criar valor que vão além de simplesmente especular sobre o preço. A nossa preferida atualmente é a Ethereum, que desde o último comentário , valorizou 108%, batendo os 87% da Bitcoin, apesar do entusiasmo em torno do lançamento do ETF sobre esta última.
Não podemos dizer que recomendamos o investimento já que subsistem muitas questões do ponto de vista legal e da avaliação e valorização, mas vemos na rede Ethereum criação de valor. E há projetos intrigantes na área das finanças descentralizadas (DeFi).
Já as memecoins têm pouco de investimento: são especulação a roçar o disparatado, e portanto não terão destaque nas nossas páginas, exceto como advertência.
É possível ganhar dinheiro, sim, mas se dá por si na esperança de um tweet de uma foto do cão de Elon Musk para ter ganhos, não se engane: não está a investir. Por uma vez, estamos de acordo com um tweet de Elon Musk: “True value is building products & providing services to your fellow human beings, not money in any form.”
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