Em dezembro, a Sonae Indústria comunicou diversas iniciativas para reorganizar a sua estrutura de capital e melhorar o perfil da dívida.
O primeiro passo foi acordar com os bancos credores a extensão do prazo de pagamento e a redução do custo do financiamento relativo a 90 milhões de euros em dívida bancária. Estes 90 milhões de euros representam cerca de 42% da dívida bancária da Sonae Indústria. Note que o endividamento bancário constitui a quase totalidade da dívida financeira da empresa (à data de 30 de setembro).
Para conseguir a concordância dos bancos não terá sido certamente alheio o facto de o principal acionista, a Efanor da família Azevedo, emprestar 50 milhões de euros ao grupo através de uma emissão de obrigações, inteiramente subscrita, com um prazo de 10 anos. Os bancos credores ficam assim numa posição mais confortável, pois a nova dívida é subordinada à dívida bancária (sénior).
Esta emissão tem características idênticas à outra emissão, a ocorrer em 2020 e num máximo de 15 milhões de euros, que será colocada junto de investidores institucionais. Ambas servirão para amortização de dívida sénior e pagarão um cupão de 7%. Estimamos que a dívida sénior atual da Sonae Indústria tenha um custo médio de cerca de 4%.
Para os acionistas da Sonae Indústria, a vontade do principal acionista em reforçar o capital da empresa (de uma forma que não dilui os restantes acionistas) acaba por ser um sinal positivo, mas tudo está longe de serem rosas.
Pois, se por um lado a empresa recebe um balão de oxigénio financeiro (aumenta o prazo de reembolso da dívida, reduz a dívida bancária e reduz o custo de uma parte desta), por outro lado a nova dívida subordinada terá um custo muito superior ao custo médio do financiamento até à data, o que poderá ter sido necessário para tornar os títulos atrativos a outros investidores.
Aliás, é sintomático da situação da Sonae Indústria que o capital investido pela Efanor (50 milhões de euros) seja superior aos cerca de 40 milhões de euros que constitui a capitalização bolsista atual da empresa.
Estimamos um acréscimo dos custos financeiros que, não sendo muito elevado, deverá ser suficiente para que 2020 passe de lucros baixos a prejuízos ligeiros (-0,01 de resultado líquido por ação esperado para 2020). 2019 deve fechar com perdas, estimadas em 0,13 cêntimos por ação.
A Sonae Indústria comunicou que irá apresentar os resultados anuais referentes a 2019 a 31 de março. Apesar da forte desvalorização, não compre a Sonae Indústria.
Cotação à data da análise: 0,89 euros