Alguns associados interessados em investir na OPA do Benfica questionam-nos se haverá uma oportunidade de “encaixar” um ganho de até 8% sem grande risco, indo ao mercado comprar ações e entregando-as na oferta.
À data em que escrevemos, a cotação mantém-se perto de 4,60 euros, um desconto de 8% face ao valor da contrapartida definida na OPA (5 euros). Contudo, não parece haver muitos fatores que possam colocar em risco a OPA. Há obviamente sintonia entre a oferente e a SAD, dado terem dirigentes em comum, e dificilmente irá haver oposição por parte dos acionistas, que estão a ser ricamente recompensados.
Apesar de ser uma hipótese tentadora, a situação não é assim tão simples.
A OPA do Benfica é sobre 28,0653% do total das ações representativas do capital social da Benfica SAD, ou seja, quase 6,5 milhões de ações. De fora da oferta ficam 1,15 milhões de ações, que representam 5% do capital da Benfica SAD. Mas como na verdade estão dispersas 7,6 milhões de ações pelo público (o resto já é da SAD ou dos seus dirigentes), não está garantido que todos os acionistas possam entregar as suas ações.
Se todos quisessem participar na OPA do Benfica, e assumindo um rateio igual para todos, cerca de 15% das ações, hoje dispersas em bolsa, iriam ficar de fora. Estas ações, com liquidez quase inexistente, previsivelmente iriam desvalorizar de forma bastante significativa, o que colocaria em risco o negócio.
E não poderiam os investidores exercer o direito de alienação potestativa forçando o Sport Lisboa e Benfica a comprar as ações remanescentes? Infelizmente, não. Como pretende manter a SAD em bolsa, o clube lançou apenas uma oferta parcial e, assim sendo, as disposições do Código dos Valores Mobiliários sobre aquisições e alienações potestativas não se aplicam.
Não especule
Portanto, considerando o tempo que a operação pode demorar a concluir-se e considerando que pode não ser possível vender a totalidade das ações na oferta, recomendamos que não especule sobre as ações da Benfica SAD.
Para quem já detém as ações, embora consiga um ganho considerável em qualquer um dos casos, depara-se também com a eventualidade de não conseguir vender na oferta todas as suas ações. Como ninguém sabe qual será o valor dos títulos pós-OPA, não podemos dizer que há um preço a partir do qual deva vender imediatamente as suas ações. Mas, à medida que o desconto em relação ao preço da OPA se vai reduzindo, mais compensador será vender já a totalidade dos títulos.
A OPA do Benfica ainda não foi registada, nem o respetivo prospeto está disponível. No entanto, a lei determina um prazo de 20 dias após a publicação do anúncio preliminar para proceder ao registo da oferta. Ainda que este prazo possa ser prolongado pela CMVM, na prática, tem apenas até 16 de dezembro para proceder ao registo da oferta.
O prazo da oferta pode, depois, variar entre 2 a 10 semanas. Mas, em declarações veiculadas pelos meios de comunicação social, os responsáveis do Benfica afirmam a intenção de querer concluir o processo ainda em 2019.