Esperada com alguma expectativa, a apresentação da plataforma de streaming de vídeo Apple TV+ não desiludiu. Com lançamento previsto para o próximo dia 1 de novembro em mais de 100 países, vem concorrer com rivais como o Netflix, já bem estabelecido, Disney+, que chegará igualmente em novembro, e o HBO Max (AT&T), que estará disponível na primavera de 2020 nos Estados Unidos.
A Apple vai usar todos os meios para conquistar um lugar entre os poderosos concorrentes. Conta investir massivamente no catálogo de conteúdos, para já limitado, por comparação. E vai concorrer no preço, anunciando a sua oferta a partir de 5 dólares por mês, contra 7 dólares para a Disney+ e 8 dólares para a Netflix, além de oferecer um ano gratuito a quem comprar novos equipamentos Apple.
Vendas do iPhone a cair
Surgido em 2007, o iPhone tornou-se rapidamente o produto vedeta da Apple, permitindo um crescimento dos lucros da empresa, em média, de 33% ao ano nos últimos 10 anos. O resultado foi uma capitalização bolsista superior a 1 bilião de dólares.
Só que as vendas do iPhone marcam passo. Depois de crescer 18% no exercício 2017/18 (Apple fecha as contas em setembro), recuaram 16% nos primeiros nove meses de 2018/19, sobretudo na China (20% das receitas), devido às tensões comerciais. O peso do iPhone no volume de negócios da empresa caiu para 56% (era 64% há um ano).
Nada demasiado preocupante, a Apple permanece a líder incontestada no segmento dos telemóveis topo de gama. E os “Serviços” (Appstore, Apple Music, TV+, Arcade, Pay) passaram a ser os motores de crescimento, estando agora no centro da estratégia do grupo.
Apple atinge o limite dos preços?
Uma constante ao longo dos anos tem sido o posicionamento premium da Apple, sem fazer quaisquer concessões nos preços. No entanto, parece que se atingiu um limite com os iPhone X.
A empresa indicou que o menos caro dos três novos iPhone 11 custará 699 dólares (contra 749 do modelo equivalente do ano passado). Em Portugal, o mais barato será vendido a partir de 829 euros. A mesma tendência verifica-se nos novos iPad e iWatch, mais baratos que a geração precedente no momento do lançamento. A Apple pode permitir-se reduções nos preços, dada a sua situação financeira confortável e rentabilidade bem superior à dos seus concorrentes.
O objetivo é aumentar o número de aparelhos Apple em circulação no mundo, e sobretudo nos países emergentes. Parece que os avanços tecnológicos limitados dos últimos modelos foram suficientes para contentar os fiéis da marca, mas não para seduzir novos clientes. Outra mudança notável foi ter tomado medidas para facilitar a reparação de iPhones danificados.
Porquê esta reviravolta estratégica? Porque o segmento de “Serviços” é agora o que mais cresce na Apple: +16% de volume de negócios nos primeiros nove meses do ano, gerando 17% das receitas (era 14% há um ano).
E a empresa de Cupertino está a enriquecer constantemente a oferta, foi aliás nessas novidades que os holofotes se focaram, na apresentação de dia 10 de setembro.
Argumentos poderosos
O sucesso comercial da Apple TV+ parece oferecer poucas dúvidas, tendo em conta os atributos da “maçã”. Grande base instalada de clientes, cada vez mais fechados no ecossistema Apple, que vão provavelmente subscrever em massa o serviço (há atualmente 1,4 mil milhões de aparelhos Apple em circulação no mundo).
Meios financeiros para garantir rapidamente conteúdos: gastou 2 mil milhões de dólares para produzir conteúdos originais, tendo mais de 210 mil milhões de dólares em caixa. Tem ainda serviços complementares, como a plataforma de jogos Apple Arcade, a Apple Music e o Apple Pay.
Não é altura para vender
A subir 42% desde o início do ano, a cotação está próxima do seu máximo histórico. Em consequência, o potencial de valorização parece-nos limitado para recomendar mais compras.
Mas, tendo em conta os numerosos pontos fortes do grupo, ainda há ganhos a extrair. Os novos motores de crescimento que apontámos, sobretudo a Apple TV+ mas também a Apple Arcade e Pay, devem continuar a impulsionar os lucros, e há ainda mercados emergentes por conquistar, como a Índia.
Estimamos um lucro por ação de 11,8 dólares em 2018/19, de 13 dólares em 2019/20, crescendo para 14 dólares em 2020/21.
Quem seguiu o nosso conselho de compra da Apple, em março de 2013, alcançou ganhos de cerca de 27% por ano, em média, superando claramente o índice S&P 500. Mas não tome ainda mais-valias, mantenha o título em carteira.