Num contexto favorável aos chamados valores "defensivos" (supostamente mais resistentes aos choques económicos e bolsistas), ações como a Nestlé, Unilever e Danone subiram para máximos históricos. Mas o ditado diz que "as árvores não sobem até ao céu". É por isso que evitamos investir cegamente, mesmo em aparentemente “boas” ações.
No setor do consumo (especialmente alimentar), o sentimento é otimista, mas moderado. A atividade acelera muitas vezes no segundo trimestre. Foi o caso de alguns grandes nomes do setor, como a Nestlé (crescimento orgânico de 3,9%, o mais elevado em 3 anos), Unilever (+3,5%) e Danone (+2,5%).
Cada grupo confirma os objetivos de lucro a curto prazo, principalmente em termos de rentabilidade operacional. Para todas estas empresas, o principal desafio continua a ser a adaptação às mudanças nas preferências dos consumidores. E também ganhar quota de mercado num contexto competitivo cada vez mais difícil, inclusive nos países emergentes.
Nestlé no top das preferências
A Nestlé continua a ser a nossa preferida. No primeiro semestre do ano, os volumes foram satisfatórios (+2,6%), com destaque para os Estados Unidos (maior mercado do grupo) e para o segmento pet food (alimentação animal). No geral, o grupo mantém a capacidade de expandir a atividade nos países desenvolvidos (crescimento orgânico de 2,4%) e nos emergentes (+5,3%). A Nestlé está gradualmente a adaptar as suas atividades para se fortalecer em segmentos mais estratégicos, por exemplo, vendendo os negócios de cuidados com a pele no segundo semestre (Nestlé Skin Health: cerca de 3% das vendas totais e fraca rentabilidade).
A situação continua mais complicada para a Unilever, que estabeleceu metas ambiciosas de rentabilidade operacional (20% antes das despesas de reestruturação em 2020, contra 18% da Nestlé).
Mais preocupado com a redução de custos do que com os investimentos, o grupo tem mais dificuldade em consolidar os volumes (apenas 1,2% no primeiro semestre), o que faz com que perca quota de mercado face aos seus concorrentes. No semestre, nos países desenvolvidos, houve até um declínio orgânico nas vendas: -0,7%. No geral, o ponto fraco continua a ser a alimentação, com crescimento orgânico de vendas limitado a 1,3% (e dos volumes abaixo de 0,1%). A atividade mais dinâmica é a dos produtos para o lar (+7,4% das vendas), mas é também a mais pequena e a menos rentável.
Finalmente, obtendo um crescimento um pouco melhor do que o esperado no segundo trimestre (+2,5%), a Danone beneficiou no segundo trimestre de uma recuperação em Marrocos (onde o grupo sofreu um boicote por produtos considerados muito caros) e na China (nutrição infantil) após três trimestres de declínio. Mas, no geral, os volumes permanecem negativos (-1% no trimestre e -1,6% no primeiro semestre). Em particular, os laticínios estão menos populares.
O grupo está, portanto, preparado para adaptar significativamente a sua oferta. Com base nos produtos orgânicos da American Whitewave (adquirida em 2016), pretende triplicar, até 2025, as receitas com produtos de origem vegetal para o trazer para atingir 5 mil milhões de euros por ano. Ao mesmo tempo, pretende manter uma disciplina orçamental melhor do que no passado. Um objetivo ambicioso que, levando em conta também o facto de não ser fácil de alcançar, parece-nos já suficientemente incorporado na cotação. Ao preço atual, bastante elevado, venda a ação.