A liberalização do mercado europeu dos serviços postais é uma realidade desde 2013. Inicialmente, a liberalização foi bem antecipada pelos operadores históricos. Apesar do surgimento de novos concorrentes, os antigos monopolistas continuaram a dominar os respetivos mercados. Investiram na automatização dos centros de triagem e os ganhos de produtividade obtidos com as reduções de custos permitiram manter a rentabilidade.
No entanto, nos últimos anos, a situação alterou-se, com o declínio acelerado dos volumes de correspondência. Cada vez mais, os consumidores estão a usar o e-mail (faturas eletrónicas, declaração de impostos via Internet) em detrimento da remessa física. Embora os operadores históricos estejam habituados à erosão anual do tráfego de correio entre 0 e 5%, enfrentam agora quedas até 10%. Assim, o aumento das tarifas postais e a compressão dos custos já não são suficientes para manter os lucros.
Motores de crescimento
Para compensar o declínio acelerado dos principais negócios, os operadores de correio apostaram nas entregas expresso. Nos últimos anos, este mercado expandiu-se com o crescimento do comércio eletrónico. Mais e mais utilizadores da Internet compram online, garantindo um futuro brilhante para o mercado das entregas ao domicílio.
Embora as empresas postais estejam bem posicionadas para beneficiar desse crescimento, graças às suas capacidades logísticas e à proximidade aos clientes, a transição para esse novo modelo de negócio ficou aquém do esperado.
Ao invés da atividade postal, o envio de encomendas é muito mais competitivo. Os operadores postais têm de lidar com players internacionais, como o FedEx, UPS e DHL (Deutsche Post).
Esta forte competição pressiona os preços. Além disso, os investimentos e os custos estão em alta porque o tamanho dos pacotes afasta-se cada vez mais do formato padrão.
Finalmente, se os operadores postais são relativamente dominantes no mercado interno, a expansão internacional (necessária para economias de escala) fracassa muitas vezes. A aquisição da norte-americana Radial pela belga Bpost provou ser uma má operação financeira. A PostNL está tentar vender as empresas italianas e alemãs, deficitárias devido à forte concorrência local.
Dividendo sob pressão
Mas hoje, os investidores questionam a sustentabilidade dos dividendos distribuídos no passado. Essas dúvidas foram recentemente reforçadas: a Royal Mail, operadora postal britânica, decidiu reduzi-lo em 40% (de 25 para 15 pence por ação) e os CTT foram ainda mais drásticos ao reduzi-lo em mais de 70% (de 0,38 para 0,10 euros). A Bpost também não poderá manter o dividendo ao nível de 2018. Por fim, apesar de a PostNL ter adquirido a sua concorrente Sandd, anunciou que terá que suspender (temporariamente) o dividendo para financiar a operação.
Conselhos
Perante a aceleração do declínio do mercado histórico, as empresas postais já não são refúgios seguros e deve-se ser cauteloso com as suas perspetivas.
- A Deutsche Post tem um balanço sólido e vantagem sobre os concorrentes graças à sua subsidiária de entregas expresso (DHL) com presença internacional. Mantenha.
- A operadora britânica Royal Mail reduziu em 40% o dividendo. Recomendamos vender.
- As perspetivas da Bpost, PostNL e CTT não são muito promissoras, pelo menos a curto e médio prazo. O elevado rendimento dos dividendos não é suficiente para estarmos positivos sobre estas ações, até porque não descartamos novas más notícias. Contudo, as cotações estão a um nível demasiado baixo para vender. Enquanto aguardamos por melhores dias, pode manter os três títulos.