Na Noruega, pela primeira vez, foram vendidos mais carros elétricos (58,4% das vendas) do que com motor de combustão interna. Um forte contributo veio da Tesla. Em Portugal, no mês passado, foi notícia que a fabricante de veículos 100% elétricos Tesla conseguiu uma quota de mercado de 1%.
Em contraponto, a Volkswagen, durante muitos anos a marca que mais vendia em Portugal, ficou, pela pimeira vez, fora do top 10 no nosso país, no primeiro trimestre do ano. Na verdade, a indústria automóvel alemã ainda não conseguiu recuperar do dieselgate. A 5 de abril, a Comissão Europeia anunciou uma nova investigação à BMW, Daimler e Volkswagen, suspeitas de bloquear novas tecnologias menos poluentes.
Estará então a Alemanha a perder a guerra dos carros elétricos? Não necessariamente. A realidade é mais complexa. Desde logo o fenómeno norueguês deve ser relativizado, dado que há uma carga fiscal extremamente pesada sobre os carros com motores de combustão, o que beneficia os elétricos.
E, ao ler notícias sobre as entregas da Tesla, é preciso ter em conta que só agora começaram as entregas do novo modelo 3 (que a marca quer produzir em massa) na Europa, havendo clientes que estão há anos à espera deste modelo, devido às dificuldades de produção da empresa, e que portanto existe uma procura acumulada. Na semana passada, a Tesla anunciou que voltou a ter elevados prejuízos no trimestre. Sem dúvida, o carismático Elon Musk conseguiu tornar cool os carros elétricos, mas (ainda) não consegue ganhar dinheiro.
Consideramos que a indústria alemã tem recursos mais do que suficientes para fazer esta transição energética. A Volkswagen, em particular, está a despertar grandes expectativas com o Volkswagen ID, que promete vir a ter as dimensões, e preço, do popular modelo Golf, mas 100% elétrico. A rentabilidade pode sofrer, mas o aumento da escala de produção e controlo dos custos devem permitir a recuperação.
Carros autónomos: o capítulo seguinte
A condução autónoma, mais concretamente a designada autonomia de nível 5, onde o carro pode conduzir-se sozinho em qualquer local e sem necessitar da atenção do condutor, é uma das tecnologias mais disruptivas que podem materializar-se nos próximos anos.
A Volvo, por exemplo, já exibiu um concept car onde o assento se transforma em cama para o condutor dormir enquanto o veículo segue o seu rumo.
A Alphabet (através da Waymo) e a General Motors (através da sua divisão Cruise Automation) são consideradas as líderes na corrida da autonomia pela maioria dos peritos.
Empresas chinesas de tecnologia, como a Baidu, estão também a apostar forte nesta tecnologia. E o inevitável Musk anunciou uma frota de “robotáxis” já para 2020.
Mais uma vez, a indústria alemã parece ultrapassada. Contudo, a autonomia total não está ao virar da esquina e não apenas por uma questão regulatória, como refere Musk. Tornou-se evidente que se subestimaram as dificuldades técnicas e o investimento necessário. Foi noticiado que a própria Alphabet procura investidores para partilhar os elevados custos inerentes à tecnologia. A colaboração parece cada vez mais inevitável, com várias parcerias a serem discutidas: Volkswagen e Ford, Daimler e BMW. Portanto, a abordagem cautelosa dos construtores germânicos poderá, em retrospetiva, ter sido vantajosa.
Ubers e carsharing ameaçam setor
A vulgarização das plataformas tipo Uber é apontada como outra ameaça existencial para a indústria automóvel. O grande receio é que uma mudança fundamental na forma como utilizamos os automóveis, nomeadamente que se passe de um padrão de propriedade para uma mera utilização, leve a uma redução drástica dos carros vendidos.
Este é um risco que deve ser relativizado. Desde logo, o grande salto depende da tecnologia de condução autónoma ser economicamente viável e, como vimos, não vai ser já amanhã. Depois, os fabricantes automóveis podem operar as suas próprias frotas de veículos autónomos (integração vertical dos negócios). Finalmente, nos países emergentes, onde o número de carros por habitante é muito menor, as vendas continuarão a aumentar nas próximas décadas.
Quanto às plataformas, a Lyft, a maior concorrente da Uber, entrou em bolsa a valer mais de 20 mil milhões de dólares, apesar de nunca ter dado lucros. A Uber irá avançar para a bolsa muito em breve.
Onde investir?
O anúncio da morte da indústria automóvel alemã é exagerado. Pode comprar BMW e Daimler. Para a Volkswagen, o nosso conselho é manter. Venda a Tesla.