A economia europeia está a evoluir bem. Anos de uma política monetária ultra expansionista implementada pelo Banco Central Europeu foram cruciais para equilibrar as contas públicas de muitos Estados e impulsionar o consumo das famílias e o investimento das empresas.
A economia cresceu 2,7% no último trimestre de 2017 e o mercado de trabalho tem recolhido os frutos, com a taxa de desemprego a descer para 8,5%, a mais baixa desde a crise financeira.
Porém, o atual ritmo de crescimento é superior ao potencial de longo prazo da zona euro, pelo que não é sustentável sem reformas profundas. Logo, não é de estranhar que os investidores se interroguem sobre a capacidade da economia em enfrentar um aumento das taxas de juro.
Embora seja certo que a normalização da política monetária do BCE será muito lenta e cautelosa, a grande diferença entre as taxas europeias e as de outros países, em particular os Estados Unidos, suscita receios de um ajustamento demasiado rápido na Europa.
Ações atrativas
Com efeito, desde o início do ano que os mercados estão hesitantes e os indicadores de atividade económica apontam um ligeiro arrefecimento da zona euro.
Contudo, esta mudança não deve ser motivo de preocupação. Em primeiro lugar, em média, o risco das ações europeias é inferior ao da maioria das congéneres de outras regiões.
A confirmá-lo, a sua avaliação continua atrativa e foi reforçada pela correção registada em fevereiro e março. A cotação média das ações do índice Stoxx Europe 50 é cerca de 15 vezes o lucro, enquanto no início do ano era de 19.
Em segundo lugar, muitas empresas aproveitaram a conjuntura para melhorar a rentabilidade (redução de custos, crescimento via aquisições, procura de novos mercados).
Por fim, a situação permanece muito dinâmica e, embora o crescimento deva regressar a níveis mais baixos, muitas das empresas do Velho Continente realizam uma parcela significativa do volume de negócios fora da zona euro, em mercados com um potencial superior.
Assentando sobretudo neste último pilar apresentamos uma seleção de 5 ações com conselho de compra e cujos resultados e, consequentemente, evolução em bolsa, não está apenas dependente da zona euro.
1. AHOLD DELHAIZE
Embora os Estados Unidos, onde as margens estão a subir, representem mais de 60% das vendas do grupo, este deverá também beneficiar do aumento do consumo das famílias europeias.
A cadeia de distribuição tenta atrair clientes praticando preços baixos e compensando esse défice com a negociação de melhores preços de compra e com as sinergias resultantes da fusão.
A Ahold Delhaize também está cada vez mais focada nas vendas on-line (ramo alimentar e não alimentar) e tem, neste canal, uma experiência melhor do que muitos dos concorrentes.
Em 2016-2017, a ação foi penalizada pela chegada da Amazon ao negócio do comércio clássico. Contudo, já recuperou boa parte da queda e mantém um bom potencial.
2. BMW
O grupo BMW está a lançar muitos novos modelos: 20 novidades previstas para este ano, incluindo os SUV que são a última moda. Em 2017, vendeu mais de 700 mil veículos nessa faixa (1/3 do total de vendas).
Também aposta nos veículos elétricos, com 25 modelos planeados até 2025. No ano passado, vendeu 100 mil carros elétricos e pretende registar um crescimento de 40% em 2018.
Desta forma, a BMW está a evoluir mais rapidamente do que o restante mercado automóvel. Apesar dos investimentos na mobilidade futura pesarem, a margem de lucro permanece confortável (8 a 10% na divisão automóvel), graças ao seu posicionamento de gama alta e à notoriedade da marca.
A cotação ultrapassou recentemente a fasquia dos 90 euros e mantém um bom potencial de valorização.
3. BNP PARIBAS
Como era esperado há vários meses, o BNP Paribas lançou uma oferta de compra (a um preço correto) sobre a filial polaca do banco austríaco Raiffeisen, o que o tornará o sexto maior banco da Polónia.
A operação é prudente, de média dimensão e o preço pago não é excessivo, sendo, portanto, compatível com a estratégia do grupo. A operação completa a expansão europeia do grupo (depois de Itália, Bélgica, etc.), melhora a rentabilidade e cria um equilíbrio entre as várias atividades (banca de retalho, seguros, gestão de fundos, crédito ao consumo, etc.).
Nos próximos anos, o grupo beneficiará dos primeiros resultados do seu plano 2020, que visa reduzir custos, por exemplo, convertendo parte da rede de agências para o digital. Isso melhorará a rentabilidade e a sua capacidade para distribuir 50% dos lucros aos acionistas.
A maior vitalidade da economia europeia e os efeitos do plano 2020 impulsionarão a rentabilidade e a cotação ainda não incorpora estes elementos positivos.
4. REPSOL
Os resultados dos últimos trimestres não dececionaram e deverão continuar em bom plano graças ao esperado aumento da produção (o grupo fez descobertas de petróleo na Bolívia e no Brasil, depois do Alasca e de Trindade e Tobago).
No primeiro trimestre de 2018, a produção subiu 4,9%. A dívida, que penalizou a Repsol durante algum tempo, está gradualmente a voltar para níveis menos arriscados.
Um novo plano, a ser apresentado em junho, esclarecerá as ambições do grupo em termos de produção e cortes de custos.
As iniciativas da Repsol para aumentar a produção são positivas. Se o esperado plano de crescimento for dinâmico, a ação ainda poderá subir mais.
5. TELEFÓNICA
O desempenho operacional da Telefonica melhorou nos últimos meses, mas não prevemos um aumento acentuado dos resultados operacionais nos próximos anos.
Como a maioria das operadoras europeias, o grupo tem algumas dificuldades de crescimento devido à maturidade do setor na Europa e a América Latina (gera 47% do volume de negócios) não é o motor de crescimento esperado.
O principal atrativo do título é o seu generoso dividendo, que oferece um rendimento bruto próximo de 5% e que parece sustentável, dada a melhoria do desempenho operacional e o declínio da dívida que ainda permanece elevada mas que baixou 9% em 2017.
A ação poderá ainda beneficiar das vendas de ativos anunciadas para os próximos meses (filiais da Argentina, Reino Unido, Alemanha).
A cotação esteve algo deprimida nos últimos anos, mas os elementos capazes de revitalizá-la estão presentes.
Investir na zona euro através de fundos
Também é possível aplicar em ações da zona euro através de fundos de investimento. Seguindo esta via não é possível fazer uma seleção apurada das empresas, pois a decisão é da gestora, mas consegue um bom nível de diversificação com montantes mais reduzidos (a partir de 500 euros) e não necessita de fazer um acompanhamento tão regular do investimento.
Recomendamos os fundos Janus Henderson Euroland e SISF Euro Equity. Se prefere os ETF (exchange traded funds) pode adquirir o iShares Euro Stoxx na bolsa de Frankfurt.