O projeto de reforma tributária de Trump inclui cortar a taxa de imposto sobre os lucros realizados por empresas americanas no exterior. Atualmente, o lucro gerado no estrangeiro é tributado à taxa que prevalece nesse país. Se o lucro for repatriado para os Estados Unidos, o fisco americano cobra a diferença entre a taxa local e a prevalente nos Estados Unidos, ou seja, 35%, uma das mais altas do mundo.
Como resultado deste sistema, nos últimos anos, as multinacionais têm preferido reinvestir os lucros fora dos EUA, em particular por meio de aquisições ou acumulando somas consideráveis em contas estrangeiras à espera de uma fiscalidade mais favorável. Um caso emblemático é a Apple que preferiu pedir financiamento para comprar ações próprias do que repatriar dinheiro do exterior e vê-lo tributado.
A administração Trump quer impor uma taxa reduzida de 10% ou menos (os detalhes ainda não são conhecidos) para a repatriação desses lucros. O objetivo é trazer o dinheiro de volta ao incentivar as empresas a reinvestir nos Estados Unidos, estimulando o crescimento e criando emprego.
O impacto nas receitas fiscais e na economia pode ser importante porque as somas envolvidas são enormes. De acordo com o Congresso, os montantes em contas externas totalizam 2600 mil milhões de dólares.
Quem vai ganhar?
Os principais beneficiários diretos da mudança fiscal serão as multinacionais, com as tecnológicas a liderar. Estas empresas ocupam os cinco primeiros lugares em termos de capital mantido no exterior.
A Apple possui 240 mil milhões de dólares em contas estrangeiras, o equivalente a 93% da sua liquidez. Segue-se a Microsoft, Cisco Systems, Alphabet e Oracle.
O que vão estes grupos fazer com esse dinheiro?
O presidente Trump espera que multipliquem os investimentos nos Estados Unidos e criem empregos, mas esse desfecho não está garantido. Uma medida similar foi implementada por George W. Bush, em 2004, tendo-se verificado que, na sua maior parte, as somas foram alocadas para a compra de ações próprias ou pagar dividendos excecionais sem impacto real no crescimento do país
Mas, mesmo os acionistas das abonadas multinacionais poderão não sair muito beneficiados. O impacto de uma nova e mais favorável tributação já foi amplamente antecipado pelos mercados e impulsionou bastante as cotações desde a eleição de Trump.
Além disso, não é claro que o dinheiro fresco seja usado criteriosamente e crie valor para o acionista. Há um claro aumento do risco de aquisições caras e as compras de ações próprias podem não ser benéficas dado que as cotações de muitas empresas já se encontram num patamar bastante elevado.
Pouco muda
No momento atual da economia e da bolsa americana, a redução do imposto sobre os capitais repatriados, e até uma reforma fiscal mais ampla, não alteram substantivamente as nossas já boas perspetivas dos Estados Unidos. Continuamos a incluir as ações norte-americanas nas nossas estratégias de carteira. Mais especificamente quanto aos grandes beneficiários da mudança do imposto, os nossos conselhos são:
– Apple (+41% desde a eleição de Trump): a cotação está próxima do máximo histórico, o que é justificado em termos de qualidade dos resultados do grupo e das suas perspetivas. Manter.
– Microsoft (+31%): a transição para a computação em nuvem é um sucesso em grande parte graças a uma grande base de clientes fiéis. A cotação já incorpora as boas perspetivas. Manter.
– Cisco Systems (+9%): o regresso ao crescimento ainda se faz esperar, mas os investidores estão demasiado céticos face a um grupo com bons trunfos. Comprar.
– Alphabet (+25%): o grupo apresenta resultados sólidos, mas atualmente está sob a mira da Comissão Europeia por abuso de posição dominante. O nível de risco é 4. Manter.
– Oracle (+25%): o especialista em software de gestão para empresas atrasou-se na transição para a computação em nuvem, mas graças à sua base de clientes conseguiu assegurar uma rentabilidade confortável. Manter.