O mercado petrolífero tarda em regressar ao equilíbrio, encravado entre uma oferta abundante e uma procura que aumenta, mas não o suficiente para absorver a produção. A Organização dos Países Exportadores de Petróleo (OPEP), um cartel cujo objetivo é controlar os preços, faz o que pode para reduzir a oferta, estabelecendo limites à produção. Um acordo entre a OPEP e outros países exportadores no final de 2016 pode ter evitado novas quedas acentuadas, mas não impulsionou o crude.
O cartel parece já ter pouca capacidade para influenciar o mercado. De facto, há uma nova variável. A produção americana de petróleo de xisto tem crescido fortemente nos últimos anos, com o número de poços em perfuração nos Estados Unidos a quase triplicar desde 2008. A queda do preço do ouro negro, em 2014 e 2015, prejudicou estas empresas, mas a recuperação do preço para cerca de 50 dólares por barril permitiu um renascimento do setor.
Petróleo de xisto “made in USA”
Muito em voga até 2014, o setor do petróleo de xisto viveu um período difícil quando o preço do crude caiu a pique até aos 30 dólares. Muitos poços foram encerrados e houve falências em série. Com os mais fracos de fora e graças aos avanços tecnológicos, a exploração de petróleo de xisto tornou-se rentável com o barril mais baixo.
Estima-se que, quando a cotação supera os 50 dólares, regressam os investimentos ao setor. O petróleo de xisto americano tornou-se um estabilizador do preço do petróleo: a sua produção diminui quando os preços descem e aumenta quando estes começam a subir. São boas notícias para os consumidores. E más para os países exportadores e empresas petrolíferas, cuja rentabilidade é muito superior quando o barril está em níveis mais elevados.
Novo paradigma
Por outras palavras, a partir de agora para tentar prever o futuro não se pode ignorar estes novos players. Em condições normais, a quebra do investimento na produção dos últimos anos deveria levar a uma diminuição da oferta e, como a procura continua a crescer, esperar-se-ia que os preços subissem. Porém, a produção de petróleo de xisto subverte esta lógica. Como a melhoria da tecnologia de extração possibilita que seja rentável com preços mais baixos, a produção norte-americana pode avançar e absorver a procura adicional.
Além disso, como a administração Trump dá liberdade às companhias petrolíferas para explorar em áreas protegidas do ponto de vista ambiental, o petróleo de xisto terá mais um trunfo para continuar a influenciar o preço do ouro negro nos próximos anos.
Conselhos de compra
A evolução do setor petrolífero depende em grande parte do preço do ouro negro. Dados os níveis de produção dos países que não pertencem à OPEP, não é previsível uma subida rápida do preço do ouro negro que hoje ronda os 45 dólares. Prevemos um nível do barril de 55 dólares no final de 2018 e de 60 dólares em 2019. Este cenário depende principalmente da redução da oferta pelos países da OPEP e do petróleo de xisto americano. Se esta aumentar substancialmente, seremos forçados a reduzir as previsões.
Desde o início do ano, o setor está a cair 14,5% (em euros) face à subida de 3,5% do índice de bolsas mundial (em euros). Acreditamos que este desconto do setor petrolífero é exagerado face às perspetivas de crescimento e aos esforços efetuados pelos grandes grupos nos últimos para reduzir os custos e a dívida e gerir melhor os investimentos.
Dentro do setor há empresas que merecem integrar uma carteira diversificada de ações. Numa ótica de longo prazo (mínimo de 5 anos), aconselhamos a compra da Chevron, Exxon Mobil, Galp Energia e Repsol.