Luz verde não está garantida
A AT&T-Time Warner formaria o terceiro maior grupo em termos de lucros gerados nos Estados Unidos, o que poderá não agradar às autoridades da concorrência que se irão pronunciar sobre a operação até ao final de 2017. A eleição de Donald Trump também pode baralhar as cartas. Apesar de ter suavizado a sua postura, o novo presidente foi contra a fusão durante a campanha presidencial.
Uma prova do ceticismo do mercado é o facto da cotação da TW (95 dólares) ainda estar 13% abaixo do preço oferecido pela AT&T (107,5 dólares por ação com uma parte fixa em dinheiro de 53,75 dólares e outra em ações da AT&T de 53,75 dólares atualmente, mas que dependerá da cotação da AT&T no final da operação).
Aquisição questionável para a AT&T
Repartindo a liderança de um mercado norte-americano maduro, onde as posições concorrenciais parecem “congeladas”, a AT&T quer estimular o seu crescimento. Alguns meses após ter comprado a DirecTV por 47 mil milhões de dólares (MD), tornando-se líder do mercado de TV paga nos EUA à frente da Comcast, a gigante das telecomunicações disponibilizou 85 mil MD para adquirir a TW, cerca de 30% da sua capitalização bolsista. Porém, a diversificação para o setor de media parece-nos ousada.
A TW detém canais de televisão populares como a HBO e a CNN, os estúdios de cinema Warner Bros, etc. e os seus resultados estão no bom caminho. Porém, embora o valor da aquisição não seja exagerado (17 vezes os lucros da TW), o seu interesse estratégico é questionável. As anteriores aproximações entre media e telecomunicações fracassaram (AOL-Time Warner e Vivendi-Universal).
Um dos principais argumentos para justificar a operação é que, com a implantação generalizada da Internet móvel 5G (em 2020), o smartphone se tornará o principal meio de acesso a vídeos e a qualidade dos conteúdos oferecidos será essencial para diferenciar as operadoras de telecomunicações e lutar contra a concorrência a partir da Internet (Netflix, Amazon, WhatsApp, Skype). Além disso, dominar os conteúdos permitirá também à AT&T personalizar ainda mais a publicidade dos vídeos.
Contudo, isso só é verdade se a AT&T tiver os direitos exclusivos de transmissão dos conteúdos produzidos pela TW, o que não é certo. Aquando da aquisição da NBC Universal pela operadora de cabo Comcast, em 2011, as autoridades de concorrência obrigaram-na a abrir os conteúdos da NBC Universal à concorrência, sem restrições. Isto poria em causa as pouco elevadas sinergias previstas de 1000 MD e parte do interesse da operação.
Além disso, se a oferta tiver sucesso, a situação financeira degrada-se bastante, já que a dívida passaria a ser de 150 mil MD, o que podia por em causa o dividendo, um dos grandes trunfos da AT&T (rendimento bruto de 4,7%).
Conselho: mantenha AT&T
Após o anúncio da operação, adotamos uma postura mais prudente sobre a AT&T, alterando o conselho de comprar para manter e aumentando o nível de risco para ? devido às dúvidas sobre os méritos da operação e ao aumento da dívida, que poderá ser um problema. Logo, o insucesso da fusão não seria problemático para a AT&T.
Time Warner: não compre nem especule
Desde o rumor do acordo entre a AT&T e a TW a 21 de outubro, a cotação da TW subiu de 83 para 95 dólares, um aumento de quase 15%. Para chegar aos 107,5 dólares (preço da oferta da AT&T), terá de subir mais 13%.
Será bom para especular? Pensamos que não. Em primeiro lugar, o acordo pode não avançar: mesmo que Trump não se oponha diretamente, as autoridades da concorrência terão de se pronunciar. Em segundo lugar, os acionistas das duas empresas poderão recusar a fusão. Por fim, no atual clima positivo das bolsas americanas, não nos parece que uma subida de 13% num ano compense o risco de queda da cotação no caso de a operação fracassar.
No caso de insucesso da fusão, com exceção de uma queda da cotação a curto prazo, não nos parece que haja motivos para temer que a TW prossiga o seu caminho sozinha. Apesar de a meta de obter um lucro de 8 dólares por ação, em 2018, que a administração anunciou na sequência da rejeição de uma oferta anterior da 21st Century Fox (preço de 85 dólares por ação, no verão de 2014), provavelmente não ser atingida, a TW não está mal posicionada na transição para o digital. Os seus conteúdos têm qualidade e são muito procurados, seja online (Internet) seja através da TV paga. Ainda assim, é preciso monitorizar a evolução da rendibilidade e da capacidade do grupo remunerar os seus acionistas (dividendos e compra de ações próprias).