O Brexit gera inquietações nos construtores automóveis estrangeiros no Reino Unido (RU). Entre esses fabricantes constam a BMW, a Nissan, a Toyota e ainda a General Motors.
Aproveitando as vantagens do mercado único, investiram massivamente na Grã-Bretanha, como porta de entrada para a Europa. Dos 1,6 milhões de viaturas produzidas no RU em 2015, 900 mil foram vendidas no continente.
O Brexit pode implicar direitos aduaneiros, restringindo as exportações para a Europa, e acabar por comprometer os investimentos já realizados. A Jaguar Land Rover, propriedade da indiana Tata, por exemplo, estimou que o seu lucro anual poderá ser reduzido em 1000 milhões de libras esterlinas em 2020.
Segundo maior mercado europeu
Os produtores locais não são os únicos preocupados com o Brexit. Os grupos que exportam do continente para o RU estão também apreensivos. Atualmente, o mercado britânico vale 2,6 milhões de unidades/ano, sendo o maior mercado europeu depois da Alemanha.
Basta dizer que este é um mercado com capital, tanto em termos quantitativos como qualitativos. Mais do que os homólogos europeus, os britânicos são apaixonados por carros de gama alta, bem equipados e portanto mais caros.
O líder de mercado no RU é o grupo Volkswagen, com uma quota de 20,6%. Mas outros fabricantes europeus ocupam uma posição de destaque. Todos irão sentir os efeitos do abrandamento económico associados ao Brexit sobre a venda de veículos no Reino Unido.
Assim, de acordo com a associação de construtores britânicos (SMMT), as vendas automóveis deverão cair no segundo semestre de 2016, fazendo com que o ano termine com um aumento de apenas de 0,3%. Com base nas mesmas previsões, as vendas cairão mais 6% em 2017.
Os franceses são os mais expostos
O abrandamento económico no RU trará consequências negativas para todos os fabricantes, mas não serão iguais para todos. Apesar de terem os maiores volumes de vendas, os produtores alemães estão menos expostos do que os franceses, dado que têm uma cobertura geográfica mais diversificada e equilibrada. Adicionalmente, adotaram uma política de cobertura cambial de longo prazo, permitindo-lhes atenuar o impacto da queda da libra esterlina.
Esta não foi uma estratégia seguida pelos fabricantes franceses. A Peugeot, com uma quota de mercado de 7,6% e realizando 8% das suas vendas naquele mercado, é o construtor mais exposto. Atendendo à queda da libra face ao euro, o lucro operacional poderá cair 300 milhões de euros, uma redução de 10%.
Esperar para ver
Por enquanto continua a ser difícil prever e quantificar as consequências do Brexit. A longo prazo, muito dependerá do resultado das negociações entre o RU e a UE. O processo de saída ainda nem sequer começou e poderá arrastar-se por anos.
Atendendo aos desafios económicos e ao peso do setor automóvel em ambas regiões, ambas as partes adotarão uma postura pragmática e de preservação dos interesses económicos comuns.
No curto prazo, os fabricantes terão de lidar com a queda da procura britânica e da desvalorização da moeda. Apesar de mais expostos, os construtores franceses não deverão ter as suas perspetivas de longo prazo fundamentalmente minadas.
Atendendo aos seus bons resultados semestrais recentes, revimos em alta as previsões de lucro da Peugeot e da Renault. Enquanto não há novidades em relação aos novos acordos comerciais, o resultado do referendo britânico não afeta a nossa visão sobre o setor automóvel que, em termos gerais, continua corretamente avaliado.
As exceções são a BMW e a FCA. Os resultados do construtor germânico devem beneficiar da renovação da gama, pelo que a BMW tem conselho de compra. A FCA, que perdeu a sua entrada no segmento dos veículos elétricos, não é um título atrativo e tem recomendação de vender.