Pouco tempo depois de se ter evitado uma secessão da Escócia, há agora um novo risco com origem nas ilhas britânicas e de proporções muito maiores. A 23 de junho, um referendo, prometido há alguns anos pelo atual primeiro-ministro, decidirá sobre o futuro do Reino Unido na Europa.
Se os britânicos votarem pela saída da UE é inevitável uma reação negativa dos investidores no curto prazo. E muito provavelmente não será apenas a bolsa de Londres a ficar sob pressão. Contudo, a médio e longo prazo, os efeitos económicos serão sobretudo sentidos pelo Reino Unido.
Mas a realidade é que as consequências de uma saída britânica são difíceis de determinar. Em primeiro lugar não existe um precedente que possa servir de exemplo. Em segundo, mesmo que existisse dificilmente seria comparável dada a dimensão da economia britânica. O Reino Unido possui o segundo maior PIB da Europa, atrás da Alemanha e um pouco à frente da França.
Embora não seja totalmente consensual, parece inevitável que, para manter o acesso aos mercados continentais, o Reino Unido teria de continuar a cumprir a maior parte dos requisitos regulamentares impostos pela União Europeia. A diferença é que, estando de fora, deixaria de poder influenciar as políticas comunitárias. Este é um dos principais argumentos dos defensores da manutenção do Reino Unido na UE.
Para o resto da Europa, as implicações económicas serão menores, mas as repercussões políticas serão importantes. Será um revés para o projeto de construção europeia. Apesar de tradicionalmente, a postura britânica ter sido sempre de bastante ceticismo face à integração europeia, é difícil conceber uma Europa mais unida com o Reino Unido à margem.
Trunfos superam incertezas
Algumas sondagens apontam para uma ligeira vantagem do “In”. E com as concessões alcançadas pelo atual Governo de Londres, criaram-se as condições para as principais forças políticas britânicas apoiarem a manutenção do país na Europa. No entanto, o resultado permanece incerto e, para já, muitas empresas decidiram suspender alguns investimentos até ao referendo.
Apesar da incerteza mantemos os nossos conselhos sobre os ativos britânicos. Em primeiro lugar, a exposição das nossas estratégias à bolsa de Londres não é demasiado elevada. Em segundo, as ações britânicas continuam a oferecer uma relação entre rendimento e risco mais atrativa do que a generalidade das outras bolsas, nomeadamente da zona euro.
Por fim, muitas das cotadas em Londres dependem mais da evolução da economia mundial do que da atividade doméstica. Atualmente, recomendamos a compra da National Grid, Pearson, Rio Tinto, Sainsbury, Vodafone e também do Barclays Bank, embora esta última ação seja mais arriscada. Para investir através de fundos, garantindo uma maior diversificação, aconselhamos o Fidelity United Kingdom A, SISF UK Equity B e Threadneedle UK Extended Alpha.
Quanto às obrigações em libra esterlina, mantemo-nos, de momento, afastados. Além da volatilidade a que a moeda poderá estar sujeita até ao referendo, também as perspetivas a longo prazo para libra são ainda de ligeira depreciação. Só uma taxa de câmbio mais baixa face ao euro poderá tornar a divisa inglesa mais apelativa.