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Reino Unido: risco de saída da UE prejudica investimentos?
Há 6 anos - 1 de março de 2016A incerteza que paira sobre o futuro do Reino Unido não é tranquilizadora para as empresas nem estimula o investimento. A maioria das empresas está contra uma saída do país da União Europeia (hipótese conhecida como Brexit) e prevê que, em caso desse cenário se concretizar, teriam de analisar a decisão de continuarem sediadas em terras britânicas.
Entretanto, os investimentos ficam na gaveta e travam a retoma na produtividade britânica, com efeitos negativos no crescimento da economia. Para já, com a incerteza sobre o referendo, a libra tem sido a principal vítima e o movimento de depreciação poderá ainda não ter terminado.
A divisa inglesa esteve durante muito tempo sobreavaliada face ao euro. Na base, as taxas de crescimento que eram as mais elevadas do G7 mas igualmente a esperança de que o Banco de Inglaterra seria um dos primeiros bancos centrais a rever em alta as suas taxas diretoras.
Mas a conjuntura evoluiu e a libra depreciou-se. Além dos défices e da ausência do investimento já referida, a moeda inglesa foi afetada pela queda das matérias-primas. Desde logo porque este é um setor com forte presença no mercado de ações de Londres. E depois porque uma parte não negligenciável dos capitais gerados pelo filão das matérias-primas é depois gerida pela City de Londres ou investida em Londres.
Com o risco do Brexit a penalizar o investimento estrangeiro, os défices elevados e as matérias-primas em baixa, a procura pela libra inglesa encolheu. Tendo desvalorizado 11% contra o euro e o dólar, desde o verão de 2015, a libra esterlina está agora perto do seu valor justo contra o euro. Mas tendo em conta a incerteza quanto ao referendo e que o Banco de Inglaterra abandonou a sua intenção de aumentar as taxas diretoras, a libra terá pouco suporte de sustentação no imediato. O mais provável é que o atual enfraquecimento da libra não tenha ainda terminado.
O que é mau para a libra não é necessariamente mau para as empresas cotadas em Londres. Quando a libra cai, o mercado britânico torna-se mais atrativo para os investidores estrangeiros. Além disso, trata-se da maior bolsa europeia: muitas das cotadas em Londres são multinacionais que realizam grande parte do volume de negócios no estrangeiro.
A importância da bolsa londrina ultrapassa o âmbito do Reino Unido e da libra e as empresas presentes nesta bolsa estão mais preocupadas com o livre acesso aos mercados europeus do que com a divisa em que estão cotadas.
Após o recuo de 17% face ao máximo de abril de 2015, o mercado acionista londrino oferece um rendimento esperado superior aos da zona euro e com volatilidade inferior. É um investimento incontornável no seio de uma carteira diversificada.
O setor financeiro e a City de Londres seriam os mais afetados pelo Brexit. Uma UE sem o Reino Unido não aceitaria que a capital britânica continuasse a ser o centro financeiro do continente.
Se o país deixar a UE, as empresas de serviços financeiros (HSBC, Barclays, Prudential, Aviva, bancos estrangeiros) poderiam ser privadas do passaporte que permite a um banco autorizado num Estado-membro a trabalhar no resto da UE. Sem esse passaporte, seria de prever restruturações e alguns bancos seriam realocados para a Irlanda ou Frankfurt, o que envolveria custos adicionais quando a falta de crescimento já pesa.
Nos bancos mais locais (Lloyds, RBS) o impacto dependerá dos efeitos do Brexit sobre a economia e que são incertos. Mas é possível que o crédito imobiliário contraia se o Brexit levar à saída de estrangeiros (trabalhadores e investidores) ou é emigração de mais britânicos. Recomendamos o Barclays, mas apenas a investidores que aceitem o risco elevado, o qual aumenta com a hipótese de Brexit.
A Rio Tinto depende da evolução dos preços das matérias-primas e os problemas no Reino Unido têm um impacto muito relativo. Compre, se aceita risco elevado.
A Vodafone está cotada em libras, mas o mercado britânico representa apenas 11,6% dos lucros. Se a libra cair os resultados em libras serão impulsionados, pois quase 90% dos lucros são gerados numa moeda diferente. Esperamos um impacto positivo sobre a cotação, mas a questão é saber o seu valor para os investidores em euros. A experiência de 1992 sugere que as cotações tendem a adaptar-se à taxa de câmbio, mas esta ação tem baixa exposição à variação da libra. Pode comprar.
A National Grid está muito centrada no Reino Unido, mas procura oportunidades de crescimento fora das suas fronteiras. A filial americana representa quase 20% da atividade e o grupo anunciou a venda da distribuição de gás no Reino Unido.
A natureza defensiva da atividade (transporte e distribuição de energia elétrica) permitirá ao grupo resistir bem. Tratando-se de uma atividade muito regulada, as revisões tarifárias ajudam a financiar o crescimento e a garantir o dividendo. Pode comprar.
O grupo de distribuição Sainsbury opera apenas no Reino Unido. Com o aumento do preço dos bens importados, tentará repercutir esse custo mais elevado sobre os preços de venda, o que não será fácil num setor onde a concorrência é feroz, mas tem uma posição privilegiada, com margens confortáveis em comparação com alguns concorrentes. Mantemos o conselho de compra.
Para a Pearson, a desvalorização da libra é uma lufada de ar fresco. O grupo britânico, ativo sobretudo na publicação de livros educacionais, gera a maior parte (cerca de 2/3) das vendas e dos lucros nos EUA. Compre.
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