A desaceleração da China, o maior importador de matérias-primas mundial, é muitas vezes apontada como responsável pela queda do preço das matérias-primas. Porém, não é o único.
Este setor é bastante cíclico e caracterizado pela existência de um hiato temporal alargado entre a decisão de investimento e o início da produção. Anos de preços das matérias a níveis elevados, acompanhados por crédito barato levaram a um crescente investimento no setor, o que conduziu a um excesso de oferta.
O setor financeiro também contribuiu para a subida da cotação dos recursos naturais. Ao entusiasmo dos investidores por esta classe de ativos e à proliferação de instrumentos financeiros passiveis de investimento associados às matérias-primas, seguiu-se a saída repentina dos investidores, quando confrontados com perspetivas menos promissoras dos mercados. Os grandes fundos de investimentos do setor viram os montantes geridos cair dramaticamente.
Depois, há as opções políticas: o maior produtor da OPEP, a Arábia Saudita, escolheu abrir as comportas, produzindo o máximo de hidrocarbonetos. O seu objetivo passa por baixar o preço, manter a sua quota de mercado, face a novos concorrentes (EUA) e minar os rivais geopolíticos (Irão e Rússia). É uma estratégia cara tanto para este país, como para todos os outros produtores. Os únicos beneficiados deste jogo são os consumidores de todo o mundo.
O efeito cambial também não é negligenciável: o dólar americano, moeda de denominação das matérias-primas, tem vindo a apreciar-se, contribuindo para esta queda de preços. Por exemplo, no início de 2015, o barril do Brent estava nos 50 dólares, enquanto no final do ano rondava os 35 dólares. Em euros, no mesmo período, o barril passa de 40 euros para apenas 33 euros.
Preços baixos para sempre?
No longo prazo, a queda dos preços das matérias-primas pode constituir uma oportunidade de investimento interessante, dado ser um setor cíclico por excelência. Os enormes investimentos feitos no início da década foram diretamente responsáveis pelo aumento da capacidade, originando a queda atual das cotações. Além disso, as limitações que as empresas do setor enfrentam levarão a uma redução da produção, e a prazo, dos preços.
Mas há boas notícias no setor: redução de custos e de investimento; encerramento de unidades menos rentáveis; redução de efetivos; supressão ou apenas congelamento de dividendos. Embora seja a pior crise da década no setor, a queda do investimento traduzir-se-á numa oferta menor, bem como numa menor capacidade de resposta em caso de retorno da procura. Basicamente, agora, estão a ser criadas as condições necessárias para um aumento dos preços no futuro. E quanto mais as cotações caírem nos próximos meses, mais provável será o retorno dos preços das matérias-primas a valores máximos.
Onde estão então as oportunidades?
No setor dos hidrocarbonetos, uma parte das empresas começou cedo a implementar programas de preservação de margens e de tesouraria (necessários para o pagamento de dividendos) e venderam ativos em boas condições. A BP e a Total foram as mais rápidas a livrarem-se das atividades deficitárias. Do outro lado, estão os gigantes do setor, que simplesmente limitaram os seus investimentos. Contudo, mostram-se confiantes quanto à sua capacidade de manter os dividendos. Os subavaliados do setor poderão ser alvo de aquisição, como oportunidade de crescimento. A Exxon Mobil mostrou-se perita em implementar esta prática (e que lhe permitiu limitar os seus investimentos e riscos associados à prospeção). Este título deverá beneficiar desta estratégia.
A Chevron sofreu um ajuste exagerado em 2015, mas deverá retornar aos seus tempos áureos. Está pouco endividada e reduziu bastante os seus custos de exploração. Poderá comprá-la agora. A Repsol é também interessante. A sua expropriação na Argentina obrigou-a a rever o seu modelo económico. Está também bem posicionada para beneficiar da recuperação quando esta surgir. Pode comprar. Por cá, a Galp Energia apresenta bons resultados graças à subida das margens de refinação.
No setor mineiro, a Rio Tinto superou os concorrentes. É a mais bem preparada para enfrentar as turbulências do setor. Tinha um nível de dívida muito baixo, quando a crise chegou. Apesar de o preço do ferro estar em queda (de 100 dólares a tonelada em 2014, contra 40 dólares atualmente), o grupo continua rentável e a gerar níveis de liquidez suficientes para investir e pagar dividendos. Está longe dos seus concorrentes que se encontram muito endividados (Anglo American, Glencore...) ou atolados em situações politico-judiciárias (Vale e BHP Billiton).
As empresas de produtos para-petrolíferos são as grandes vítimas desta crise. Estruturalmente endividadas, a redução do investimento desestabilizou-as ao ponto de a sua solvabilidade estar em questão. Dado o risco de falência em cascata, é melhor esperar pela recuperação antes de se aventurar no setor.