PER baixo continua em alta
Já ouviu falar em Price Earnings Ratio (rácio cotação / lucro por ação)? É provavelmente o indicador bolsista mais observado pelos investidores em todo o mundo. Relaciona, num único número, o preço de uma ação com os lucros que a empresa obtém. Assim, torna-se mais fácil comparar duas empresas com níveis diferentes de rentabilidade. Como se divide a cotação de uma ação pelo lucro de cada título, valores mais baixos são preferíveis. Entre duas ações com o mesmo preço, a que tem maiores lucros tem menor PER. Ou, no caso de duas ações com o mesmo lucro por ação, a que tem a cotação mais barata é a que tem o PER mais baixo.
Embora seja uma visão algo abstrata, o PER também pode ser lido como o número de anos que o investidor demoraria a recuperar o seu investimento. Por exemplo, supondo que uma empresa tem um lucro anual constante de 50 cêntimos por ação, e que cada papel custa 5 euros, então demoraria 10 anos até acumular 5 euros em lucros. O seu PER é, precisamente, 10. Como referência geral, considera-se que valores inferiores a 10 estão associados a empresas baratas, acima de 20 as empresas tendem a estar caras. Em torno de 15 estarão corretamente avaliadas. No entanto, estes valores não devem ser entendidos como absolutos, pois este rácio tem as suas limitações.
PERigos
No exemplo acima, supusemos que a empresa teria sempre o mesmo lucro por ação, mas a verdade é que os lucros são voláteis, e um PER baixo hoje pode ser elevado amanhã, se os lucros da empresa caírem bruscamente. As empresas cíclicas, isto é, aquelas cujos resultados tendem a crescer rapidamente numa fase de expansão económica e a cair de forma acentuada numa fase de contração, podem ser particularmente enganadoras quanto ao PER.
Também empresas numa fase inicial do seu desenvolvimento, onde os investimentos tendem a ser elevados e os lucros são inicialmente reduzidos, ou até mesmo inexistentes, dificilmente apresentam PER atrativos. A outro nível, o PER não leva em conta dados essenciais como o endividamento da empresa, mas ao olhar para duas empresas com o mesmo lucro e preço, não é indiferente que uma delas esteja atolada em dívidas enquanto a outra tenha um endividamento controlado.
Em resumo: o PER tende a ser um indicador mais fiável em negócios relativamente estáveis e pouco dependentes do ciclo económico, como os serviços públicos e bens de consumo essenciais, e menos fiável em negócios mais dependentes do ciclo económico (automóvel ou construção, por exemplo) ou em rápido crescimento (por exemplo, start-ups tecnológicas). Como também ignora outros aspetos importantes da atividade das empresas, deve ser complementado por outros indicadores. No modelo de avaliação da PROTESTE INVESTE, este rácio tem um peso de 10% (25% no caso do setor financeiro) e não está limitado aos dados históricos, pois incorpora as previsões dos nossos analistas para os próximos anos.
Como se portou a carteira de 2014
De maio de 2014 até ao final de outubro de 2015, a seleção PER valorizou 25,8%, com o reinvestimento dos dividendos. Um bom desempenho, superando os principais índices de referência para o Reino Unido (FTSE 100) e Europa (Stoxx 600), mas não o S&P 500. A acentuada valorização do dólar americano, que ganhou 25,51% face ao euro, foi o fator preponderante. Os títulos cotados em dólares representavam 40% da carteira, e é entre estes que encontramos aqueles com o melhor desempenho: Western Union (+58%) e Teva Pharmaceutical (+59,4%). Já a Chevron (-3,7%) e BP (-3,3%) apresentaram as maiores perdas, devido ao mau momento do setor. Refira-se que estamos a considerar o reinvestimento dos dividendos. Caso contrário, o ganho desta carteira estaria limitado a 19,1%.
Não deve ser a única medida
No quadro pode ver a nossa nova seleção. Mantemos o mesmo critério: as 10 empresas com PER mais baixo (note-se que oito têm o PER inferior a 10 e são consideradas tradicionalmente como baratas) que constam da nossa seleção e que têm conselho de compra. Claro que o nosso propósito é sobretudo ilustrar este critério: ainda que individualmente as ações possam ter bom potencial, não deve replicar cegamente esta carteira sem antes analisar outros aspetos.
Por exemplo, a diversificação. Fará sentido, numa carteira com 10 títulos, colocar mais de metade do investimento em dois mercados pequenos como o belga (três empresas) e português (três empresas)? Ou, do ponto de vista setorial, investir em quatro empresas do setor financeiro e duas empresas tecnológicas? Provavelmente não, pois o desempenho ficaria demasiado exposto ao risco do país (relembre-se do que se passou em Portugal por volta de 2011) e do setor (como é sabido, o setor financeiro foi o principal responsável pela última crise mundial).
Mas pode utilizar o nosso comparador online para descobrir as ações com PER mais baixo em mercados ou setores específicos, ao mesmo tempo que complementa a análise com outros dados. Por exemplo, qual a empresa do setor energético com conselho de compra, com o menor PER, e que não está cotada em euros?
Setor | Mercado | Risco | PER | |
JinkoSolar | Energia - Solar | Nova Iorque | 4 | 4,71 |
BCP | Banca | Lisboa | 4 | 6,36 |
Agfa - Gevaert | Químico | Bruxelas | 4 | 7,16 |
Atenor Group | Construção e Imobiliário | Bruxelas | 3 | 7,23 |
BPI | Banca | Lisboa | 4 | 7,23 |
Novabase | Tecnológico | Lisboa | 3 | 7,67 |
Barclays Bank | Banca | Londres | 4 | 9,36 |
IBM | Tecnológico | Nova Iorque | 2 | 9,50 |
Exmar | Transporte Marítimo | Bruxelas | 3 | 10,34 |
Axa | Seguros | Paris | 3 | 10,64 |