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"Os consumidores podem escolher os melhores depósitos em qualquer país"
Há 2 anos - 25 de novembro de 2019
WebSummit: Entrevista a Tamaz Georgadze, CEO da Raisin.com
A Raisin já ultrapassou os 100 mil clientes. A plataforma é constituída por bancos parceiros em toda a Europa e os montantes aplicados em depósitos já ascendem a mais de 5 mil milhões de euros.
Proteste Investe (PI): O que é a Raisin e como funciona?
Tamaz Georgadze (TG): A Raisin é um marketplace de depósitos em bancos de diferentes países. Os clientes podem ir à nossa plataforma, efetuar um registo e constituir um depósito num dos bancos à escolha.
Temos plataformas ativas em sete países europeus: Alemanha, Áustria, Espanha, Holanda, França, Irlanda e, depois, o Reino Unido que está dentro e fora da Europa! Por último, temos a nossa plataforma www.raisin.com para servir os clientes do resto da Europa, como Portugal.
PI: Quais são as vantagens da Raisin.com em relação à banca tradicional?
TG: A principal vantagem é abrir o leque de opções aos consumidores que, assim, podem escolher a melhor oferta em bancos que não estão disponíveis nos seus países. Por exemplo, se formos ao website alemão, encontramos ofertas de cerca de 80 bancos. Cerca de 70 dessas instituições não operam na Alemanha. O cliente pode escolher uma dessas ofertas, através da nossa plataforma, e conseguir uma taxa mais vantajosa do que a de um banco local.
PI: O cenário de taxas de juro de 0% é um desafio ou uma vantagem para a Raisin?
TG: É um desafio e uma vantagem. Neste momento, temos as melhores taxas na maior parte dos mercados em que estamos presentes. O problema é que quando se oferece só mais meio por cento, as pessoas pensam que, por meio por cento, não vale a pena. Mas, esse meio por cento, ao fim de 20 ou 30 anos, significa um maior retorno a longo prazo. Por outro lado, conseguimos manter taxas acima de zero, o que é raro no mercado atual.
PI: Qualquer cidadão pode abrir uma conta na Raisin?
TG: Estamos na Europa, portanto, só cidadãos europeus. Entretanto, estamos a planear para 2020 a expansão para os Estados Unidos.
PI: Como funciona em termos de segurança, em relação à identidade dos clientes?
TG: Usamos diferentes métodos e estruturas legais, consoante a lei local. Mas o processo começa sempre com uma identificação bancária efetuada pelo banco de referência do cliente (a conta bancária local que o cliente tem de fornecer para se registar na plataforma).
PI: No que diz respeito aos montantes depositados, se os bancos falirem, os mesmos estão assegurados pelo fundo de garantia?
TG: Todos os países europeus estão cobertos pelo fundo de garantia de depósitos até 100 mil euros, por cliente e por banco. Portanto, todos os bancos da nossa plataforma estão cobertos até cem mil euros - o montante de depósito máximo que é permitido na nossa plataforma.
PI: Como selecionam os bancos que integram a vossa plataforma?
TG: Do lado da banca, procuramos saber se existe uma estrutura sustentável. Observamos o rácio de adequação de capital e os rácios de liquidez dos bancos. Não procuramos fazer o papel de supervisor, não nos compete. Portanto, acreditamos na supervisão bancária das respetivas instituições europeias. Embora, tenhamos o cuidado de procurar saber se a instituição corre o risco de passar por uma crise financeira, não conseguimos garantir a sua viabilidade. Aliás, não somos uma agência de rating e por essa razão, limitamos o montante dos depósitos até 100 mil euros, tal como referido anteriormente.
PI: Já tiveram problemas com algum banco, em que tiveram de intervir ou mesmo ativar o fundo de garantia de depósitos?
TG: Não, ou melhor, nenhum fundo de garantia teve de intervir. No entanto, tivemos dois casos: o primeiro, na Bulgária, onde o Governo teve de intervir com um fundo de liquidez de emergência para financiar o Fibank, o terceiro maior banco daquele país. O caso da Bulgária é particular devido à sua moeda estar ligada ao euro, o que não lhes permite criar liquidez. Por isso, o Governo teve de criar ativos em forma de seguros e fundos de emergência para gerar essa liquidez. O segundo, foi o caso do BES agora conhecido por Novo Banco, mas essa história vocês devem estar recordados...
PI: Como é que a Raisin obtém receitas?
TG: Estabelecemos acordos com os bancos que nos pagam uma comissão pelo número de clientes que levamos até eles através da nossa plataforma. Por que razão é assim? Quando lançamos a Raisin, perguntámos aos consumidores se estavam dispostos a pagar e concluímos que apenas uma ínfima parte estaria disponível para pagar por serviços de poupança. Para o cliente não faz sentido estar a “dar-nos” o seu dinheiro e ter de pagar por isso.
E o que é que os bancos ganham com isso? Estando na nossa plataforma não precisam de ter uma versão do banco online, de ter custos com gestão, segurança e com aplicações. Também não têm custos com publicidade porque somos nós que nos encarregamos disso.
PI: E essa é a única fonte de receitas da Raisin?
TG: No caso dos depósitos, sim. Mas na Alemanha comercializamos também fundos de investimento e de pensões e recebemos comissões desses produtos. Nesses casos, são os clientes que pagam.
PI: O que é que os bancos devem fazer para se manterem competitivos?
TG: Oferecemos os nossos produtos aos bancos para que eles possam integrá-los nas suas plataformas on-line e alargar a oferta de produtos bancários de outros países aos seus próprios clientes. E temos já alguns bancos que integram os nossos serviços nas respetivas carteiras de produtos que disponibilizam aos seus clientes.
PI: Há algum plano específico para Portugal?
TG: Qualquer cidadão português pode abrir conta na plataforma Raisin.com. O único senão é que o site está em inglês, não temos um serviço na língua portuguesa. Também não planeamos lançar, especificamente, em Portugal nem noutro país. Seria muito mais complexo se lançássemos por país, quer pelas diferentes regulações de proteção dos consumidores quer pela forma como podemos apresentar as taxas: em alguns países só podemos mostrar a taxa efetiva, noutros a nominal. E todos os países são diferentes em termos fiscais.
Proteste Investe: Em Portugal, no caso dos depósitos, o imposto é retido na fonte. Como funciona na Raisin?
Tamaz Georgadze: Depende do banco que vai escolher na plataforma e dos acordos para prevenir a dupla tributação do país onde esse banco está sedeado. Entre a maioria dos países europeus existe este tipo de acordo. Em alguns países existem valores mínimos que estão livres de impostos. Mas, em geral, vai receber um juro bruto e depois terá de o declarar à autoridade fiscal, de acordo com as leis de cada país.
Entrevista de Manuel Ribeiro e Daniela Reigadinha,
com a colaboração de André Gouveia e António Ribeiro
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