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Dieta vegan é a mais cara, mas protege mais o ambiente

Comparados quatro regimes alimentares, o vegan é o mais dispendioso, exigindo mais de sete mil euros por ano, para uma família de quatro pessoas. Ao mesmo tempo, é o que menos danos causa ao ambiente. O oposto da dieta planetária, que custa cerca de menos mil euros, e tem um impacto similar à mediterrânica. No meio-termo, fica o ovolactovegetariano.

24 fevereiro 2023 Exclusivo
vista de mesa de madeira verde escura com 3 taças de diferentes tamanhos, uma grande com massa e verduras, outra média com nozes e frutos secos e a terceira pequena com (leguminosas).

iStock

A angústia do comum dos mortais cresceu na fila do supermercado, com a subida paulatina do preço dos alimentos. A guerra prolongada veio desordenar as contas familiares. A carne e o peixe fizeram-se sentir ainda mais nos orçamentos. E para quem retira aquelas proteínas do menu, o aumento refletiu-se de igual modo? Um movimento crescente, revestido, não raras vezes, de preocupações ambientais e de bem-estar animal, orienta  uma fatia crescente da população. Parece ideia assente que ser vegetariano ou vegan é um caminho sem danos ambientais e menos dispendioso, dado excluir a carne e o peixe. Todavia, a verdade é mais complexa.

De acordo com dados de 2021, pelo menos 12% dos portugueses seguem planos baseados em produtos de origem vegetal, nos quais se englobam os regimes vegan e ovolactovegetariano. E se o veganismo, excluindo qualquer alimento de origem animal (até o mel), é realmente menos nocivo, mas não inócuo para os recursos do planeta, o preço não é para todas as bolsas. No polo oposto situa-se a chamada dieta planetária, a mais económica, que pretende combinar uma alimentação saudável com a proteção do planeta. Mas que, nesta comparação, com base numa família de quatro pessoas, tem um desempenho ambiental idêntico ao da mediterrânica. No meio-termo, fica o padrão ovolactovegetariano.

Quanto pesarão estas dietas no orçamento e nos recursos do planeta? O estudo da DECO PROTESTE pôs em cima da mesa os quatro padrões alimentares: mediterrânico, planetário, ovolactovegetariano e vegan. Para cada um, ponderou a escolha dos ingredientes e as quantidades precisas para uma dieta semanal, nutricionalmente equilibrada.

Ficha técnica do estudo

Para os quatro regimes alimentares estudados, a DECO PROTESTE baseou-se numa dieta nutricionalmente variada e equilibrada, para assegurar a adequação energética e dos nutrientes essenciais, incluindo vitaminas e minerais. Determinaram-se os ingredientes, e as respetivas quantidades, necessários para uma dieta semanal, de uma família de quatro elementos: dois adultos, uma criança e um adolescente.

Na dieta mediterrânica, tal como para as dietas vegetarianas, o ponto de partida foi a roda dos alimentos e, na planetária, as recomendações e as quantidades do estudo da Comissão EAT-Lancet. Nas dietas vegetarianas, procedeu-se à substituição dos produtos de origem animal por alternativas vegetais. Quando possível, escolheram-se alternativas fortificadas, para minimizar riscos nutricionais de deficiências de nutrientes como cálcio, vitamina B12 e zinco.

Para calcular os valores nutricionais, tomou-se como referência os valores médios da Tabela de Composição dos Alimentos (TCA) da população portuguesa, publicada pelo Instituto Ricardo Jorge, em 2021. Os preços dos produtos, que serviram para determinar o custo das dietas, foram recolhidos em supermercados representativos do retalho da grande distribuição. Nos frutos e hortícolas, a preferência recaiu nos produtos frescos a granel. 

Com o objetivo de harmonizar os custos, em cada categoria, confrontaram-se ingredientes iguais, adaptando as quantidades e a sua inclusão, ou não, consoante o padrão. A retirada de um ingrediente implicou um substituto nutricionalmente equivalente. Da despesa semanal, extrapolou-se a mensal e a anual. 

Qualquer que seja o regime, as necessidades energéticas e nutricionais são iguais. Princípio aplicado ao menu semanal planeado para a família de quatro pessoas, traduzido numa média de 2200 quilocalorias, e adequado para suprir as necessidades dos macronutrientes (glícidos, lípidos e proteínas) e micronutrientes (vitaminas e minerais). Excluíram-se os alimentos ultraprocessados. 

Na mediterrânica, partiu-se dos princípios e das quantidades ideais, pouco comuns em Portugal. O Inquérito Alimentar Nacional e de Atividade Física, de 2016, revela que apenas 18% dos portugueses aderem corretamente à dieta mediterrânica. Em 2020, outro estudo concluiu que só um quarto da população adere a essa alimentação. 

Quanto a preços, a recolha ocorreu em dois momentos: julho e novembro de 2022. Entre os dois períodos, a despesa aumentou cerca de 7%, em todas as dietas. A mediterrânica e a ovolactovegetariana sofreram os maiores aumentos. 

As compras realizaram-se em seis supermercados online: Auchan, Continente, El Corte Inglés, Intermarché, Mercadão/Pingo Doce e Minipreço. Produtos frescos, a granel e de marca própria, nos embalados, estiveram na linha da frente.

Ser vegan não é para todos

A balança de preços pende a favor da dieta planetária, a mais leve para o bolso. No lado oposto, a vegan gasta mais recursos financeiros. Mas o que a transforma na mais cara? O grupo das alternativas aos lácteos. Essencial para o equilíbrio nutricional destes regimes, é muito mais dispendioso do que os similares de origem animal. Um iogurte natural custa, em média, 17 cêntimos. Ao equivalente vegetal, há que acrescentar 33 cêntimos. A alternativa vegetal ao iogurte clássico de aroma custa mais 34 cêntimos. E o fosso não fica por aqui. O preço de um litro de leite meio-gordo é, em média, de 85 cêntimos. Já um litro de bebida de soja custa, em média, 97 cêntimos. Pela mesma quantidade de bebida de aveia, paga-se, em média, 1,40 euros e pela de amêndoa, 1,58.

O custo imputado à fruta tão-pouco é de negligenciar, já que as dietas ovolactovegetariana e vegan devem incluir uma maior fatia para suprir as necessidades energéticas e nutricionais. Face à planetária, a vegan e a ovolactovegetariana têm o dobro da despesa em frutas. O gasto de 60 euros semanais em frutos e hortícolas superam a despesa de qualquer outra dieta.

Dieta vegan é mais amiga do ambiente

E qual o desempenho ambiental das quatro dietas? Entre 18 categorias, selecionaram-se as cinco mais relevantes: aquecimento global, ocupação do solo, consumo de água, ecotoxicidade da água e eutrofização marinha (introdução de nutrientes no mar).

Nenhum regime é irrepreensível, contradizendo a generalização de que a dieta vegan só soma vantagens e que a vilania é atributo das que incluem carne. É verdade que esta produz mais impactos associados ao aquecimento global e à escassez de recursos fósseis. Porém, gasta menos água do que a vegan, a qual reúne a favor a maior sustentabilidade, por exemplo, nas emissões de CO2 equivalente e de partículas, na formação de ozono na troposfera ou na eutrofização das águas. No geral, comparando as quatro dietas, a vegan tem menos impactos ambientais em 11 das 18 categorias consideradas.

No padrão ovolactovegetariano, sem carne e peixe, as emissões de CO2 equivalente e de partículas são muito inferiores às do mediterrânico e do planetário, mas superiores às do vegan. Ao invés, o ovolactovegetariano tem a vantagem de não exigir tanta água como o vegan, sendo o melhor entre cinco das 18 categorias, e o pior apenas numa. 

E a dieta mediterrânica? Apresenta os melhores resultados na ecotoxicidade da água. Mas, por englobar o consumo de carne e de peixe, tem também elevadas emissões de CO2 equivalente. E é a pior em cinco das 18 categorias analisadas.

O padrão planetário tem consequências similares às da dieta mediterrânica. Uma pequena diferença que pode ser compensada com alimentos de menor impacto. Um ponto a favor é requerer menos água. Mas o impacto é maior em nove das 18 categorias.

Boas alternativas para proteger o ambiente

  • Dieta vegan: se trocar a bebida de amêndoa por uma de aveia, reduz 20% o gasto de água. Numa semana, poupam-se mais de 1500 litros de água e dois quilos de CO2 equivalente. Ou seja, corta o potencial de aquecimento em 10 por cento.
  • Dieta ovolactovegetariana: substituir o leite de vaca por uma bebida de soja fortificada com vitaminas e minerais diminui 5% a emissão de CO2 equivalente, 6% o consumo de água e 1% a ocupação do solo.
  • Dieta mediterrânica: as carnes vermelhas exigem mais recursos. Por essa razão, se trocar bifes de vaca por idênticos de frango, o potencial de aquecimento e o consumo de água são reduzidos em 5 por cento.
  • Dieta planetária: a substituição da ervilha por feijão-manteiga permite diminuir 5% na extensão da ocupação do solo utilizado, 3% no consumo de água e 2% no aquecimento global.

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