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Três quartos das famílias com dificuldades financeiras

O número de famílias numa situação financeira frágil aumentou, em 2022. Quase metade vê-se aflita para suportar as despesas relacionadas com alimentação. E poupar passou a ser uma tarefa quase impossível. Conheça as principais conclusões do Barómetro DECO PROTESTE e ouça o podcast sobre o tema.

15 março 2023 Exclusivo
Dificuldades financeiras dos portugueses

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De braço dado com a inflação e a subida do preço dos produtos, os portugueses têm cada vez mais dificuldades em pagar as contas. Em 2022, as famílias portuguesas acrescentaram mais um furo ao cinto, face aos números do ano anterior.

Em cinco anos de  Barómetro DECO PROTESTE, este é o primeiro em que a alimentação surge como a despesa que mais dificuldade os portugueses sentem em pagar. Quase seis em cada dez dizem não conseguir pagar produtos de primeira necessidade, como peixe e carne, devido à subida dos preços. E mais de metade garante ser difícil suportar despesas de mercearia, como massa e arroz.

O martelo da inflação bate com mais força na frágil carapaça das famílias mais carenciadas. Como sair desta cruel espiral do custo de vida?

Foi o que Aurélio Gomes perguntou a João Duque, professor catedrático de Finanças, a Pedro Pimentel, Diretor-Geral da Centromarca – Associação Portuguesa de Empresas de Produtos de Marca, e ainda a Vítor Machado, responsável técnico da área de produtos e serviços da DECO PROTESTE, em mais um episódio do podcast POD Pensar, desta vez gravado também em vídeo.

 

A maioria dos quase cinco mil portugueses que responderam ao inquérito da DECO PROTESTE garante que vive com dificuldades financeiras (66%). Já as famílias em situação crítica subiram para os 8% – mais 2% do que em 2021. Numa situação confortável estão apenas 26% dos agregados familiares. No entanto, conforto não é sinónimo de riqueza.

O Alentejo (78%) e a Região Autónoma dos Açores (77%) são as zonas geográficas onde mais famílias passam por dificuldades financeiras. A fechar o pódio encontra-se o Algarve, com 74% das famílias. Lisboa e Vale do Tejo é a região do mapa onde menos famílias têm dificuldades em suportar os encargos (72%, ainda assim). As famílias numerosas com, pelo menos cinco membros, e as monoparentais continuam a ser os perfis familiares com mais dificuldades financeiras. 

Em cinco anos de Barómetro DECO PROTESTE, que avalia a capacidade de os agregados familiares enfrentarem as despesas de alimentação, educação, habitação, lazer, mobilidade e saúde, 2022 foi o ano em que o índice atingiu o valor mais baixo: 42,1 – numa escala de 0 a 100 –, uma descida de 3,2 pontos face a 2021. As perspetivas para 2023, por sua vez, não são mais animadoras, porque a tendência é para que o índice continue a descer.

Dificuldades disparam no setor alimentar

Em 2022, habitação, alimentação e mobilidade foram as despesas que mais pesaram nas carteiras das famílias portuguesas. No entanto, o destaque vai mesmo para os bens alimentícios, visto que a percentagem de famílias com dificuldade em pagar estas despesas aumentou 15%, comparando com o ano anterior: 44% dos agregados familiares sentem agora dificuldade em suportar as despesas alimentares.

 

Este cenário deve-se, em muito, à inflação e ao aumento dos preços dos produtos de supermercado. Quase 60% das famílias diz ter dificuldades em pagar produtos de primeira necessidade, como o peixe e a carne, e mais de metade (51%) garante ser difícil suportar despesas de mercearia, tais como massas, arroz, iogurtes, entre outros. A subida dos preços dos produtos empurrou seis em dez famílias para uma situação financeira mais difícil. 

No que à habitação diz respeito, a manutenção da casa e as faturas de água, gás e eletricidade são as despesas que mais complicam os orçamentos da maioria das famílias portuguesas: 54% e 53%, respetivamente, assumem dificuldade em suportá-las.

Por sua vez, na mobilidade, as despesas com o carro são as que mais afetam as carteiras portuguesas: 67% das famílias têm dificuldades em suportar os gastos com combustíveis, seguros automóveis e manutenção do veículo.

Apesar de a terceira despesa mais difícil para os agregados portugueses estar relacionada com as viagens das férias grandes (57%), os encargos com os tempos livres são a fatia de despesas que menos incomodou os portugueses, em 2022: apenas um quarto das famílias as considera despesas difíceis de suportar. Este resultado explica-se muito pelo facto de estas despesas serem consideradas menos importantes, pela generalidade dos consumidores, sendo mesmo descartadas em caso de necessidade.

Coimbra é o distrito com menos dificuldades

Além da Região Autónoma dos Açores, as famílias com menos poder económico distribuem-se de norte a sul: Vila Real, Aveiro, Viana do Castelo, Viseu, Santarém e Évora. Coimbra é o distrito onde o desafogo financeiro é maior, destronando Portalegre, que desceu para meio da tabela. No segundo lugar do pódio, aparece a Região Autónoma da Madeira, protagonizando a subida mais significativa: passou dos últimos três piores distritos, em 2021, para os três melhores, em 2022. O pódio fica fechado com o distrito alentejano de Beja, que mantém a posição do ano transato, e com Lisboa — ambos com a mesma pontuação. Por sua vez, Leiria, Bragança e Faro completam o leque de distritos, onde as famílias têm mais poder económico.

À semelhança de Portalegre, os restantes lugares a meio do ranking são ocupados por Porto, Castelo Branco, Setúbal, Braga e Guarda.

Está mais difícil poupar

Se 2021 não foi um ano famoso para poupanças, o 2022 não trouxe melhores notícias para o mealheiro. Apenas 7% das famílias portuguesas tiveram facilidade em poupar. Já 75%, mais 2,9% do que no ano anterior, garantem ser difícil colocar algum dinheiro de parte. 

Entre as famílias portuguesas que consideram não ter dificuldades financeiras, apenas 19% acharam fácil poupar em 2022. O que significa que a grande maioria das famílias que, no nosso estudo, estão na "zona de conforto" sente dificuldades em amealhar algumas poupanças. Ou seja, vivem, sobretudo, para pagar as contas. No extremo oposto, das famílias que estão numa situação financeira crítica, 98% têm dificuldades em fazer um pé-de-meia. 

As dificuldades financeiras dos agregados familiares são cada vez maiores e, como tal, poupar vai ser uma missão cada vez mais difícil. Em 2023, a perspetiva é de que mais de 80% das famílias portuguesas não consigam fazer poupanças significativas.

Em que consiste o estudo?

O Barómetro DECO PROTESTE visa medir a capacidade de as famílias portuguesas pagarem as despesas do dia-a-dia em seis áreas: alimentação, educação, habitação, lazer, mobilidade e saúde. Em dezembro último, enviámos um questionário, por correio e online, para uma amostra da população adulta. No total, foram recebidas 4910 respostas. Foram ponderados os resultados de acordo com a distribuição demográfica portuguesa, segundo as variáveis sexo, idade, região e habilitações literárias.

O índice varia entre 0 e 100 e, quanto mais elevado for o número, maior é a facilidade dos agregados familiares em pagarem as despesas. Com base no grau de dificuldade demonstrado, é metodologicamente viável criar três grupos de famílias: as que se encontram em “situação crítica” (que não conseguem ou têm dificuldade em pagar as seis categorias de despesas consideradas); as que apresentam “dificuldades financeiras” em pagar algumas despesas essenciais; e, por fim, as que ocupam uma zona de “conforto”, ou seja, que conseguem facilmente pagar todos os gastos.

Leia os outros artigos e ouça todos os episódios do POD Pensar

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