Alimentação sustentável: como vai ser o futuro à mesa?
Como alimentar a população mundial e respeitar os princípios de sustentabilidade ambiental? O tema foi explorado no ciclo de conferências Visões do Futuro, em Lisboa, no passado dia 18 de outubro.
- Texto
- Deonilde Lourenço

Temos lugar à mesa para mais mil milhões? Cerca de uma hora foi suficiente para levantar muitas questões e sugerir outras tantas respostas à pergunta que deu o nome ao painel, um entre vários no ciclo de conferências Visões do Futuro, que decorreu no Pavilhão Carlos Lopes, em Lisboa, a 18 de outubro último.
A análise da sustentabilidade da produção e distribuição alimentar à população do Planeta foi entregue a cinco oradores. O mote do painel era claro quanto à complexidade do tema e das abordagens e contou com a participação de Dulce Ricardo, coordenadora da área alimentar da DECO PROTESTE, Francisco Ferreira, Presidente da Zero - Associação Sistema Terrestre Sustentável, Hélio Loureiro, chef de cozinha, Hunter Haulder, fundador da Re-food, e de João Wengorovius Menezes, gestor, com a moderação da jornalista Carla Jorge de Carvalho.

A perspetiva do crescimento da população mundial até 2030, em conjugação com um horizonte de escassez alimentar e de escolhas obrigatórias ao nível ambiental, para reduzir a pegada ecológica, dominou o debate. “Os alimentos pesam 32% na nossa pegada ecológica”, lançou Francisco Ferreira. Daí que este ambientalista não tenha dúvidas quanto à obrigatoriedade de “fazer a escolha certa do ponto de vista da salvaguarda dos recursos. Consumir produtos locais e da época é crucial. Muita carne é importada e sujeita a produção intensiva. Comemos três vezes mais proteína animal do que deveríamos. A alimentação vegetariana contribui para uma maior eficiência”.

Na mesma linha de pensamento, não se podem adiar por mais tempo “Sistemas de produção mais regenerativos”, nas palavras de João Wengorovius Menezes. Além do preço e da origem, os produtos alimentares deveriam informar no rótulo acerca da “sua pegada ecológica”, defende este gestor. Associado ao quivi, por exemplo, está uma pegada ecológica enorme. A piorar o cenário, as estatísticas dizem-nos que “Um terço da comida cozinhada é desperdiçada.”
Uma situação contra a qual Hunter Haulder, fundador da Re-food, se bate todos os dias através da sua organização, cuja filosofia consiste em recolher comida que sobra de restaurantes, supermercados e afins, e distribuí-la por quem necessita.

Hélio Loureiro, que, além de chef, é investigador na área gastronómica, insiste no trio “sazonalidade, proximidade e biodiversidade”. Em várias cantinas, tenta implementar a chamada “ementa ambientalista”, que obedece àqueles princípios. Pouco dado a modas, Hélio Loureiro não exclui a carne de vaca da dieta alimentar, tema que recentemente deu lugar a um debate público quando a Universidade de Coimbra a retirou da ementa das suas cantinas. Desvaloriza também os alimentos da moda, como a quinoa (cuja fama mundial prejudicou em muito a economia das populações locais, devido ao preço elevado que aquele cereal atingiu) e as bagas de góji, perfeitamente substituíveis por outros alimentos.
Dulce Ricardo, da DECO PROTESTE, associou-se a esta perspetiva, salientando que, por exemplo, as bagas de góji podem não ser tão saudáveis como se apregoa pelo facto de não estarem isentas de pesticidas. A coordenadora da área alimentar destacou a importância do regresso às origens e da dieta mediterrânica. Em relação à venda das doses de produtos alimentares, sublinhou que “são necessárias porções menores, mais adaptadas às necessidades, de modo a evitar desperdício alimentar”.
O conteúdo deste artigo pode ser reproduzido para fins não-comerciais com o consentimento expresso da DECO PROTESTE, com indicação da fonte e ligação para esta página. Ver Termos e Condições. |