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Seguros de ciber-risco: muitos riscos, poucas coberturas

Seja ao usar redes sociais, seja ao fazer compras online, todos estão expostos aos riscos cibernéticos. Mas, com a escassa oferta de seguros de ciber-risco em Portugal, quem irá acudir os consumidores?

07 julho 2022
Ciberrisco

iStock

Quem nunca temeu os perigos de navegar na internet que atire a primeira tecla. Se é um dos corajosos que permanecem com o teclado intacto, saiba que as malícias do mundo cibernético não acontecem só aos outros e que a próxima vítima pode ser o caro leitor.

Na sequência dos ataques informáticos a empresas nacionais de diversos setores, como a Vodafone, o grupo Impresa, os laboratórios Germano de Sousa e o grupo Sonae, os portugueses ficaram mais conscientes da vulnerabilidade dos seus equipamentos e da possibilidade de terceiros acederem aos seus dados.

E se um pirata informático lhe usurpar os códigos de acesso bancário? E se fizer compras indevidas com esses dados? E se lhe roubar fotografias dos seus filhos? Ou ameaçar expor informações privadas? São apenas algumas das preocupações que podem assombrar os cidadãos. Daí que o interesse por seguros que cubram riscos cibernéticos tenha vindo a aumentar.

Quem tem medo compra um seguro

As seguradoras já disponibilizam apólices que abrangem situações relacionadas com ciberataques, mas destinam-se, sobretudo, ao mercado empresarial. E os consumidores particulares? Ficam entregues aos lobos digitais? Na verdade, sim e não. 

Consultámos o mercado e descobrimos que apenas a Fidelidade tem uma apólice para particulares, disponível em dois planos anuais, de 36 euros e de 48 euros. Oferece proteção jurídica, como defesa penal, reclamação de danos, utilização fraudulenta do cartão de crédito na internet ou defesa da responsabilidade civil por atos praticados online. E inclui serviços de assistência, para rastreio e eliminação de informação digital sensível, geolocalização, bloqueio do smartphone, controlo parental, assistência psicológica, entre outros. 

A Tranquilidade e a AGEAS também proporcionam coberturas de proteção digital, mas integram-nas nas apólices de multirriscos-habitação. A Tranquilidade aposta na assistência ao segurado em caso de sinistro e a AGEAS preocupa-se sobretudo com a proteção jurídica das vítimas. 

Chorar sobre dados derramados 

Se é verdade que o mercado segurador ainda deve trilhar um longo caminho para cobrir todos os riscos que preocupam os consumidores, também não é mentira que nem tudo se resolve com um seguro. Há muitas situações em que os danos podem ser reputacionais ou emocionais

Imagine, por exemplo, o sofrimento causado pela perda de fotografias dos momentos especiais dos seus filhos, a divulgação de informações privadas ou episódios de assédio e perseguição através dos meios digitais (cyberbullying). 

Os métodos dos hackers são cada vez mais sofisticados, e nem sempre é fácil detetar a sua ilegitimidade. Ainda assim, é provável que os seguros venham a apostar em capitais indemnizatórios, para compensar eventuais danos sofridos pelos utilizadores.

Denúncias disparam na pandemia

Nos períodos de confinamento decorrentes da pandemia, em 2020 e 2021, as denúncias de cibercrimes sofreram um aumento exponencial. Segundo o Gabinete Cibercrime da Procuradoria-Geral da República, foram recebidas 193 denúncias em 2019, 544 em 2020 e 1160 em 2021. 

Além dos ataques informáticos, estão entre os crimes mais frequentes a fraude para obtenção de informações pessoais (phishing), as burlas em compras online, as chamadas telefónicas falsas, a divulgação de informações pessoais, a perseguição (stalking), a coação para extorsão de favores sexuais à vítima (sextortion), o discurso de ódio, os crimes contra a honra e as fraudes associadas à aplicação MB WAY

É certo que os seguros de ciber-risco ainda têm de melhorar os seus capitais extremamente reduzidos para cobrirem outras exclusões e contornarem limitações. Até lá, lembre-se de que o seu computador e o seu telemóvel não estão imunes a ataques. Redobre os cuidados na sua presença digital

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