32108 Visualizações
50 Respostas
2 Gostos
Notícias
Crédito Habitação: quem tem direito a apoio e quanto vai receber
A DECO PROTESTE ajuda a simular quanto pode receber de apoio à prestação de crédito à habitação. É uma das três medidas previstas no pacote Mais Habitação, lançado pelo Governo para apoiar famílias com taxa de esforço superior a 35 por cento. Ouça o podcast sobre o tema.
- Especialista
- Nuno Rico
- Editor
- Ana Santos Gomes
21 abril 2023
Em atualização

O pacote de propostas Mais Habitação, lançado pelo Governo a 16 de fevereiro, prevê três medidas de apoio para os titulares de contratos de crédito à habitação.
As medidas aprovadas têm como objetivo ajudar as famílias com mais dificuldade em fazer face à subida das taxas de juro nos créditos à habitação com taxa variável indexada à Euribor. Além do apoio para titulares de crédito à habitação, o pacote de medidas Mais Habitação inclui também medidas de apoio ao arrendamento.
A DECO PROTESTE considera que as propostas do Governo não são suficientes para ajudar as famílias com crédito à habitação e já propôs uma medida alternativa, que limite a subida das prestações mensais. Se concorda com a proposta da DECO PROTESTE, assine a carta aberta que será enviada ao Governo e aos grupos parlamentares.
Assine a carta aberta para exigir um travão à subida da prestação
No episódio do podcast da DECO PROTESTE sobre o tema da habitação, Nuno Rico, especialista da defesa do consumidor em crédito à habitação, explica em que consiste a proposta da DECO PROTESTE e como o travão ao aumento das prestações do crédito à habitação proposto permitirá, pelo menos, duplicar em valor o apoio aos consumidores, além de chegar a mais famílias.
À conversa com o moderador Aurélio Gomes estiveram também Helena Roseta, arquiteta, autora da primeira Lei de Bases da Habitação em Portugal, e voz incontornável nesta matéria; e ainda Sandra Marques Pereira, socióloga e investigadora do Centro de Estudos sobre a Mudança Socioeconómica e o Território, do ISCTE.
Os três debateram o pacote de medidas Mais Habitação e procuraram responder à dúvida que tem dominado nos média e agitado a opinião pública. Há um anúncio de uma mudança nas políticas de habitação. Que mudança é essa? E é mesmo de esperar que alguma coisa mude?
Mas, afinal, que medidas propõe o Governo para o crédito à habitação?
1) Isenção de mais-valias por venda de segunda habitação
Quem vender uma segunda habitação de qualquer membro do agregado familiar pode ficar isento do pagamento de mais-valias desse imóvel. Basta que nos três meses seguintes à venda use o valor da venda para amortizar o crédito à habitação de uma casa que tenha a função de habitação própria e permanente para si ou para um descendente.
No entanto, caso o valor da venda seja superior ao montante usado para amortização de crédito à habitação, há lugar à cobrança de imposto sobre o valor restante.
Esta medida abrange apenas vendas de imóveis ocorridas nos anos 2023 ou 2024.
2) Taxa fixa em todos os bancos com crédito à habitação
A medida aprovada pelo Governo prevê que todos os bancos que oferecem soluções de crédito à habitação sejam obrigados a disponibilizar propostas de taxa fixa, taxa mista e taxa variável a todos os clientes.
Ao contratar um empréstimo com taxa fixa, o consumidor assegura a estabilidade da prestação do seu crédito durante o prazo em que a taxa é fixada. Em alguns casos, os contratos podem incluir um período com taxa fixa e outro com taxa variável. É a chamada taxa mista.
Em regra, as propostas com taxa fixa são mais caras do que as propostas com taxa variável. É o preço a pagar pela estabilidade, que mantém o consumidor imune às flutuações das taxas de juro nos mercados financeiros. Se compensa ou não, tudo vai depender de como os indexantes variarem ao longo do empréstimo. Se subirem muito, o consumidor não sofre agravamentos da prestação. Mas se descerem ou chegarem a terreno negativo, como aconteceu nos últimos anos, o consumidor também não beneficia desse período de juros baixos.
Em Portugal, os contratos com taxa fixa representam menos de 2% do total. A esmagadora maioria dos créditos à habitação está indexada a taxa variável, usando geralmente a Euribor como indexante de referência. É precisamente por essa razão que as famílias portuguesas são as mais vulneráveis da Europa no atual cenário de subida acentuada dos juros.
DECO PROTESTE reclama novas regras para taxa fixa
A medida aprovada pelo Governo apenas obriga a incluir propostas de taxa fixa no catálogo de soluções disponibilizadas pelo banco. Não há limites mínimos e não há limites máximos. Logo, ao que tudo indica, os bancos ficam com total liberdade para apresentarem soluções com taxas irrealistas, caso não tenham interesse comercial em apostar nesta vertente de crédito.
A DECO PROTESTE teme que a imposição anunciada pelo Governo pouco ou nada venha a mexer na oferta de crédito à habitação a favor dos consumidores. Aliás, a DECO PROTESTE considera que o Governo deveria aproveitar esta oportunidade para rever a legislação que enquadra o mercado de crédito à habitação com taxa fixa, identificando um indexante de referência, a que deveria acrescer um spread em função do risco do cliente.
Também a comissão de amortização dos créditos com taxa fixa deveria ter sido revista pelo Governo, diz a DECO PROTESTE. Atualmente, quem tem um empréstimo com taxa fixa paga uma comissão de 2% para efetuar uma amortização antecipada. Já para quem amortiza um crédito à habitação com taxa variável está prevista uma comissão de 0,5%, que, excecionalmente, não é cobrada até ao final de 2023.
3) Bonificação mensal de juros
A possibilidade de ver reduzida a prestação mensal do crédito à habitação passa a estar ao alcance de algumas famílias com taxa de esforço superior a 35 por cento. Mas apenas os créditos à habitação são tidos em conta para este cálculo. Não são considerados outros créditos hipotecários, como os multiopções, nem os créditos ao consumo, como o crédito automóvel, crédito pessoal ou cartões.
Ou seja, para calcular a taxa de esforço, há que dividir apenas as prestações de crédito para aquisição ou construção de habitação própria e permanente pelo rendimento líquido disponível.
Para ser elegível para a bonificação de juros tem de acumular as seguintes condições:
- crédito para aquisição ou construção de habitação própria e permanente contratado até 15 de março de 2023;
- empréstimo indexado à Euribor em que a diferença entre o indexante contratado inicialmente e o indexante atual já seja superior a 3 pontos percentuais;
- montante contratado inferior a 250 mil euros;
- empréstimos apenas com taxa variável ou com taxa mista, mas que estejam a atravessar o período de taxa variável;
- empréstimos com as prestações regularizadas;
- taxa de esforço atual superior a 35%;
- declaração de IRS do ano anterior que comprove rendimentos brutos totais do agregado familiar até 38 632 euros (corresponde ao 6.º escalão de IRS) ou, caso a declaração de IRS do ano anterior apresente rendimentos superiores, documentos que comprovem que os rendimentos brutos atuais do agregado familiar são atualmente inferiores a 38 632 euros anuais e que o agregado sofreu uma quebra de rendimentos superior a 20 por cento.
- património mobiliário, como contas bancárias, Certificados de Aforro, ações ou fundos, por exemplo, que não ultrapasse 29 786,66 euros (corresponde a 62 indexantes dos apoios sociais).
Qual o valor do apoio para crédito à habitação?
O banco deverá apurar a diferença entre a taxa de juro contratada no início do empréstimo e a taxa de juro atual. Quando a diferença exceder 3 pontos percentuais (por exemplo, se contratou o empréstimo com o indexante 0,25 e este atualmente já ultrapassou 3,25%), o apoio corresponderá a 50% da variação dos juros da parte que ultrapassa esses 3 pontos percentuais. O apoio é elevado para 75% da variação dos juros no caso das famílias cujos rendimentos brutos anuais sejam inferiores a 20 700 euros (corresponde ao 4.º escalão de IRS).
Simule o valor do apoio a que pode ter direito. O simulador da DECO PROTESTE é atualizado todos os meses com os valores da Euribor a 3, 6 e 12 meses. Para repetir a simulação em diferentes meses, descarregue novamente o ficheiro.
Faça login no site para descarregar gratuitamente o ficheiro que lhe permite simular o valor do apoio do Governo à prestação de crédito à habitação.
Se ainda não é subscritor, conheça estas e outras vantagens da assinatura.
Como se faz o pedido de apoio?
Os titulares de crédito à habitação abrangidos pelo apoio devem requerê-lo, pessoalmente ou através da internet, à instituição bancária onde celebraram o crédito. O pedido deve ser acompanhado dos documentos que comprovem o enquadramento nos requisitos exigidos pelo Governo para a atribuição deste apoio.
Os bancos têm 10 dias úteis após a receção do pedido para emitirem a sua resposta. Se for aceite, o banco desconta automaticamente o apoio nas prestações a cobrar nos meses seguintes.
Há limites para o apoio?
Sim. Cada contrato de crédito não poderá receber mais do que 720,65 euros anuais (corresponde a 1,5 indexantes dos apoios sociais).
Qual a duração do apoio?
A bonificação de juros para crédito à habitação estará em vigor até dezembro de 2023 e tem efeitos retroativos a janeiro de 2023.
DECO PROTESTE insiste na dedução de juros de todos os créditos à habitação no IRS
Apesar de reconhecer a boa intenção das medidas anunciadas pelo Governo, a DECO PROTESTE lamenta que o seu efeito prático fique muito aquém das reais necessidades das famílias que atualmente enfrentam grandes dificuldades para pagar as prestações de crédito à habitação.
Para a DECO PROTESTE, a fórmula de cálculo sugerida pelo Governo para atribuir a bonificação de juros representará apenas um pequeno desconto temporário e pouco expressivo numa prestação que tanto pesa no orçamento mensal das famílias em esforço financeiro.
Propor este pequeno alívio financeiro durante apenas alguns meses de 2023 está longe de resolver o problema das famílias que estão vinculadas por décadas a um compromisso financeiro que se torna cada vez mais difícil de honrar, tendo em conta a subida abrupta das taxas de juro, lembra a DECO PROTESTE. Em dezembro de 2023, o apoio acabará e não é expectável que as taxas de juro tenham descido até lá.
Por essa razão, a DECO PROTESTE considera urgente a implementação de outras medidas complementares e reivindica o regresso da dedução no IRS dos juros pagos com créditos para habitação própria e permanente, à semelhança do que aconteceu até 2011. Recorde-se que, atualmente, apenas os juros dos contratos celebrados até 31 de dezembro de 2011 são dedutíveis no IRS.
Leia os outros artigos e ouça todos os episódios do POD Pensar
- Lares de terceira idade em Portugal: o que se passa do outro lado da porta?
- O que nos está a custar o custo de vida
- Amor e uma burla
- Eutanásia: uma questão de morte ou de vida?
- Crédito à habitação, eletricidade e inflação: soluções para enfrentar 2023
- Indústria dos cosméticos: mentiras em que queremos acreditar
- Reclamar compensa: como queixar-se de um produto ou de um serviço
- Resíduos urbanos: Portugal ainda longe de cumprir metas de reciclagem
- Garanta boas compras e finte as fraudes na black friday
- Marques Mendes defende a dedução dos juros do crédito à habitação no IRS
- No labirinto da obesidade infantil
- Soluções para enfrentar a tempestade dos juros
- Boa é a vida, mas melhor é o vinho
- Quanto custa estudar em Portugal?
- Ensino da língua gestual portuguesa nas escolas: sim ou não?
- O que está a falhar no Estatuto do Cuidador Informal?
- Telecomunicações: é tempo de pôr fim às reclamações
- "A violência contra os animais pode ser o primeiro sinalizador de violência doméstica"
- Férias (quase) pós-covid: novo paradigma, os problemas de sempre
- Burnout: quando o trabalho (e a vida) nos esgotam
- Comprar ou arrendar casa: um beco sem saída?
- Greenwashing: "Mais do que enganar os consumidores, mina a confiança"
- "Nada substitui um médico de família"
- "Cada família tem a sua própria taxa de inflação"
- Aumentos na energia: os filhos ingratos da transição energética?
- “Mil litros de água custam o mesmo que três cafés”
- "Violência obstétrica: é importante ouvir as mulheres"
- "A cibersegurança é um tema de cidadania"
- A ilusão de um mundo "zero covid". O que se segue?
- Eleições: voto eletrónico e à distância são caminho a seguir?
- O meu condomínio dava um filme
- "Há muitas pobrezas dentro da pobreza energética"
- "É prioritário eletrificar os veículos que mais circulam"
- "Há mais gente a pedir ajuda. A pandemia, mais do que a gota de água, foi a permissão"
- "Metade das compras em Portugal são feitas em promoção"
- Poupança: a grande "enjeitada" da economia?
O conteúdo deste artigo pode ser reproduzido para fins não-comerciais com o consentimento expresso da DECO PROTESTE, com indicação da fonte e ligação para esta página. Ver Termos e Condições. |