Fotovoltaico: atenção ao prazo de retorno do investimento
O tempo de retorno do investimento é o dado a reter no momento de escolher o sistema, mas há que fazer as contas, para que o prazo seja realista.
- Especialista
- Pedro Silva e Susana Rodrigues
- Editor
- Isabel Vasconcelos

O interesse pelos sistemas solares fotovoltaicos para autoconsumo tem aumentado nos últimos anos. A DECO PROTESTE tem recebido diferentes pedidos de informação, mas também reclamações. A mais comum resume-se numa frase: "Investi muito, e não há diferença significativa na conta da eletricidade." Contudo, quando é analisada a informação enviada, depressa se conclui que, em regra, o sistema está sobredimensionado. Ou seja, quando foi definido, assumiu-se um consumo de eletricidade durante as horas de sol superior ao que, na realidade, se verificava. Não houve cuidado na análise do perfil de consumo na casa e foram adotadas soluções com mais painéis, mais caras e que não se traduzem em maiores poupanças. Se, durante as horas em que há produção de energia, o consumo for reduzido, apenas aumenta o excedente injetado gratuitamente na rede elétrica.
Outra questão prende-se com o desfasamento entre a produção anual estimada e a que se verifica na realidade. Em regra, deve-se ao facto de as propostas iniciais considerarem condições de instalação ideais (como a orientação a sul), à ausência de sombras e a outros aspetos técnicos que podem afetar a produção do sistema. Uma visita prévia ao local por parte do instalador permite verificar as condições e ajustar o que for necessário à proposta.
Este artigo pretende dotar os consumidores interessados em investir num sistema solar fotovoltaico para autoconsumo de ferramentas que ajudem numa escolha mais informada.
Obter o consumo nas horas de sol
Um sistema solar fotovoltaico apenas produz eletricidade enquanto há luz solar. Por esta (fulcral) razão, deve ser dimensionado segundo o consumo da casa nesse período. De nada adianta instalar um sistema com uma capacidade elevada numa casa onde o consumo durante o dia é reduzido, e que ocorre, sobretudo, à noite. Há quem se siga pelo gasto referido na fatura da eletricidade, mas, como este não distingue se é feito de dia ou de noite, não permite aferir, com precisão, como se distribui ao longo do dia. Então, como fazer?
Quem tiver um contador inteligente ligado à rede de comunicações consegue obter, no portal da E-REDES, a eletricidade consumida em intervalos de 15 minutos, para todos os dias do ano: basta registar-se. Os dados permitem traçar o perfil de consumo para um dia, uma semana, um mês ou um ano. Esta é a forma mais rigorosa de conhecer as necessidades de eletricidade nas horas em que há sol – em média, das 08h00 às 18h00 –, e é um bom ponto de partida para dimensionar o sistema.
Quando não há contador inteligente ou não é possível usar os dados que indica, é preciso fazer contas.
- Comece por registar a contagem do contador às 08h00 e às 18h00 e subtraia à última o valor registado de manhã: fica com o consumo nesse período.
- Repita a operação durante, pelo menos, duas semanas.
- Some os consumos diários anotados e divida pelo número de dias em que registou as contagens: obtém um consumo diário médio durante as horas de sol.
- Multiplique o valor médio por 365 dias: fica com um valor aproximado da quantidade anual de energia que o sistema deverá fornecer.
Ajudar a família Silva a poupar
Para perceber as contas, bem escolher e descobrir a poupança que pode conseguir, nada como usar um exemplo. A família Silva, um casal com dois filhos com mais de 20 anos, vive numa moradia de dois pisos e três quartos, na margem a sul de Lisboa. A casa tem sempre alguém durante o dia e, à noite, a família completa. Os Silva gostavam de reduzir a fatura da eletricidade, e pretendem instalar um sistema fotovoltaico para autoconsumo.
Contrataram uma potência de 6,9 kVA, com contador monofásico, e pagam cerca de 90 euros mensais, com uma tarifa de 0,1802 euros por kWh. Em casa, têm placa de indução, forno elétrico, frigorífico, máquinas de lavar roupa e loiça, exaustor, vários pequenos eletrodomésticos, quatro televisores, o mesmo número de computadores portáteis, uma impressora e três aquecedores elétricos portáteis de 1600 W, que ligam nos dias mais frios. Para a água quente sanitária, dispõem de um sistema solar térmico com termossifão, de 200 litros, e o apoio de um esquentador a gás natural.
Como os Silva têm contador inteligente ligado à rede de comunicações, foi fácil obter os dados de consumo ao longo de 2022: verificou-se que foi de 4500 kWh. Destes, 1600 kWh ocorreram nas horas em que há sol e os restantes 2800 kWh, nas horas em que o sistema não produz eletricidade. Com base nestes dados, e assumindo um cenário perfeito, em que o sistema fornece a totalidade de energia para satisfazer o consumo nas horas de sol, a poupança anual seria, no máximo, de 288 euros. Para chegar a este valor, multiplicou-se os 1600 kWh que se evita consumir da rede pela tarifa cobrada (0,1802 euros). O resultado serve como ponto de partida do que se pode poupar. Resta saber quanto é preciso investir, considerando que o valor deve ser inferior ao retorno esperado em dez anos (2883 euros): caso contrário, poderá não compensar.
Opte pelo prazo de retorno menor
Para saber quanto é preciso investir, a DECO PROTESTE recorreu aos simuladores de diferentes empresas. Não se trata de um estudo comparativo, mas permite perceber como analisar a informação obtida.
Propostas obtidas nos simuladores otimistas na poupança e prazo de investimento | |||||
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Empresa | Número de painéis | Preço do sistema (€) | Produção anual (kWh) | Poupança anual (€) | Retorno do investimento |
EDP COMERCIAL | 3 | 2534 | 1718 | 248 | 10 anos e 2 meses |
GALP | 3 | 2410 | 1572 | 325,92 | 7 anos e 5 meses |
GOLDENERGY | 3 | 1984 | 1756 | 266 | 7 anos e 6 meses |
IBERDROLA | 3 | 1868 | 1583 | 316,78 | 5 anos e 11 meses |
IKEA | 3 | 1999 | 1943 | 418 | 4 anos e 10 meses |
Com potências próximas de 1,2 kW, nos dados dos simuladores, verifica-se que a produção anual das soluções propostas está bastante próxima do consumo real nas horas com sol: 1600 kWh. Já a poupança anual varia muito, entre os 248 e os 418 euros. Além de os equipamentos propostos terem desempenhos distintos, as diferenças podem também ser explicadas pelos valores usados nas simulações, nomeadamente o custo do kWh consumido da rede. Claro que estes valores têm implicações no prazo de retorno do investimento.
Ao refazer as contas usando a tarifa que a família paga e os 1600 kWh que não consome da rede, verifica-se que o investimento fica pago entre cerca de seis e nove anos, em função do comercializador. À partida, a solução com o retorno mais curto é a mais interessante.
Com base nos consumo nas horas de sol, o tempo para o retorno do investimento é mais realista | |||||
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Empresa | Preço do sistema (€) | Autoconsumo (kWh ao ano) | € por kWh consumido | Poupança anual estimada (€) | Retorno do investimento |
EDP COMERCIAL | 2534 | 1600 | 0,18 | 288,32 |
8 anos e 9 meses |
GALP | 2410 | 8 anos e 4 meses | |||
GOLDENERGY | 1984 | 6 anos e 11 meses | |||
IBERDROLA | 1868 | 6 anos e 6 meses | |||
IKEA | 1999 | 6 anos e 11 meses |
Após as simulações, há um contacto por parte das empresas, e é nessa altura que se devem afinar os detalhes, para que o sistema proposto seja o mais adequado possível ao perfil de consumo real. É também o momento de esclarecer os elementos usados na simulação, como a orientação considerada, o consumo total assumido ou o custo por kWh. Convém ainda perguntar sobre as garantias dos componentes, a existência de um sistema de monitorização ou a eventual obrigatoriedade de contratar o tarifário de eletricidade ao operador. Alguns cuidados garantem uma boa escolha e o uso mais adequado do sistema solar fotovoltaico, de modo a reduzir a fatura da eletricidade.
- Evitar tarifários com fidelização. Não associe a compra do sistema de autoconsumo a um tarifário de eletricidade com fidelização. Se o que pretende é pagar em prestações, analise antes a possibilidade de contratar um crédito pessoal para energias renováveis.
- Prever a visita de um técnico. Para ter a certeza de que escolhe o sistema correto para o local e que todos os custos estão previstos, peça a visita prévia de um técnico ao espaço. Além disso, convém contactar vários instaladores, para obter diferentes orçamentos.
- Evitar um retorno elevado. Se as contas ao retorno do investimento resultarem num prazo superior a dez anos, pondere a instalação do sistema solar. Refaça os cálculos ou solicite mais propostas, para comparar as alternativas.
- Deslocar consumos para outro horário. Com um sistema para autoconsumo, deve deslocar consumos no lar para as horas em que aquele produz eletricidade. Por exemplo, passe a ligar as máquinas de lavar roupa ou loiça durante o dia, quando há sol, para aproveitar a energia produzida.
- Distribuir consumos nas horas de produção. Apesar de ser importante pôr aparelhos a funcionar nas horas de sol, há que evitar a concentração dos consumos em simultâneo. Tal poderá levar a um pico de consumo que o sistema não tem capacidade de fornecer, indo buscar energia à rede, o que afeta a fatura.
- Instalar um sistema de monitorização. Existem vários sistemas de monitorização, alguns deles com uma aplicação para o telemóvel, que permitem fazer um correto acompanhamento da produção do sistema e do consumo na habitação. Analise estes dados, para tirar o melhor proveito do investimento.
- Vender a eletricidade excedente. Quando a energia produzida é superior às necessidades de consumo, o excesso é injetado gratuitamente na rede. Se quiser vender este excedente, há requisitos e procedimentos legais a cumprir. Consulte os comercializadores no site da ERSE e verifique as condições praticadas.
- Avaliar a instalação de baterias. O investimento é o maior entrave. Além disso, o sistema deve ter uma capacidade superior às necessidades, de modo que exista excedente para acumular, o que aumenta o investimento. Peça diferentes orçamentos e compare soluções.
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