Portugueses dizem sim a cidades inteligentes, mas falta informação
O nosso inquérito a 1010 portugueses revela que, no geral, a inteligência artificial é considerada muito útil para gerir a iluminação e a recolha de lixo urbano, por exemplo. Mas há falta de informação, sobretudo sobre a forma como os dados são utilizados.
- Especialista
- Carlos Morgado
- Editor
- Paula Melo dos Santos e Alda Mota

Nas “cidades inteligentes”, as infraestruturas e os serviços tradicionais são geridos de forma mais eficiente graças à utilização de tecnologias digitais, entre as quais a inteligência artificial (IA). Os sistemas de IA analisam os dados que são massivamente recolhidos junto dos cidadãos através de aplicações de GPS e de estacionamento, câmaras de vigilância urbana e dados de utilização de outras aplicações móveis, mencionando apenas alguns meios. Através desses dados, monitorizam-se questões como a mobilidade e a utilização de espaços públicos, para oferecer serviços (sobretudo na forma de aplicações) que permitem utilizar de forma mais sustentada os recursos da cidade, como a energia e os meios de transporte, entre outros.
Inteligência artificial é útil nas cidades
A maioria dos portugueses considera muito útil a implementação de determinados sistemas de inteligência artificial na cidade em que vive ou trabalha, sobretudo para otimizar a recolha de lixo urbano e os transportes públicos e controlar a iluminação das localidades de forma mais eficiente, mas também para identificar criminosos em fuga e pessoas desaparecidas.
Atividades em que a inteligência artificial é muito útil

Há, no entanto, um desconhecimento generalizado sobre os aspetos envolvidos na utilização de sistemas de inteligência artificial. Por exemplo, apenas 8% dos inquiridos afirmam estar bem informados sobre a lógica por detrás destes sistemas, nomeadamente a forma como os dados recolhidos junto dos consumidores são utilizados; quase dois terços admitem saber muito pouco ou mesmo nada sobre este assunto.
Aspetos da inteligência artificial em que o conhecimento é insuficiente

Os inquiridos mais velhos, os que têm piores condições financeiras e as mulheres são quem se sente menos informado acerca das questões relacionadas com a IA. Além disso, 68% defendem que os consumidores deveriam receber mais informação quando são confrontados com um sistema de decisão automático. Um exemplo destes sistemas são as aplicações GPS que decidem o percurso numa viagem (com base no trânsito, no tempo para chegar ao destino, etc.).
Cerca de metade dos inquiridos considera que a legislação atual é inadequada para regular de forma eficiente as atividades baseadas em IA. A convicção de que estas tecnologias irão originar uma significativa perda de postos de trabalho em vários setores foi também demonstrada por 40% dos participantes.
Portugueses valorizam mais os serviços de saúde com a pandemia
No nosso estudo, pretendemos também avaliar o impacto que a pandemia de covid-19 teve na forma como os portugueses encaram a sua vida nas cidades. Se antes da pandemia o fator que mais pesava era a proximidade de lojas de conveniência e de retalho, agora há mais consumidores a valorizar o acesso a serviços da área da saúde.
É também na saúde que mais portugueses querem ver investidos os fundos disponibilizados pela União Europeia para a recuperação económica dos países (a chamada “bazuca”). As políticas de emprego estão igualmente no topo das prioridades.
Áreas preferenciais para aplicação da “bazuca” financeira

Andar mais a pé está no horizonte dos portugueses
Quisemos ainda saber de que forma é que a pandemia afetou as condições de trabalho dos portugueses. O teletrabalho ficou inquestionavelmente mais presente. Para 40% dos inquiridos cujo trabalho pode ser feito remotamente, trabalhar em casa tornou-se uma realidade que não existia antes.
Quase 60% dos participantes profissionalmente ativos consideram que as tecnologias virtuais no trabalho vieram alargar as oportunidades de emprego, ensino e comunicação. Mas 39% estão convictos de que, ultrapassada a pandemia, o trabalho remoto tenderá a regredir, bem como a utilização de tecnologias virtuais.
A maioria dos portugueses considera também que, depois de ultrapassada a pandemia, os seus hábitos de mobilidade irão regressar ao que era antes. Ainda assim, 45% preveem vir a utilizar, pelo menos, um meio de transporte sustentável (bicicleta, bicicleta elétrica, trotineta elétrica, andar a pé) com maior frequência. Dois quintos consideram vir a andar mais a pé, enquanto 27% pensam utilizar de forma mais frequente bicicleta elétrica, 26% bicicleta e 22% trotineta elétrica.
Os resultados do estudo foram apresentados em primeira mão no Fórum Internacional Anual Euroconsumers, que decorreu a 2 de dezembro e no qual se discutiram as questões que atualmente afetam os consumidores e que irão moldar o futuro, como a inteligência artificial, a sustentabilidade, a inovação e as ações coletivas, entre outras. Um dos objetivos do fórum era explorar como os consumidores podem estar no centro de uma economia renovada e sustentável no pós-covid-19, impulsionando mudanças não apenas em temas para os quais precisam de proteção, mas pressionando pela inovação e pelo desenvolvimento da economia para a transição verde e digital.
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O nosso estudo
Entre 11 e 19 de outubro de 2021, fizemos um inquérito online a uma amostra da população adulta portuguesa, entre 18 e 74 anos. No total, obtivemos 1010 respostas válidas, que foram ponderadas para refletirem a opinião da população em termos de género, idade, nível educacional e região. Os resultados refletem a opinião e a experiência dos inquiridos, mas podem ser considerados tendências representativas da população nacional.
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