Hábitos de sustentabilidade: Portugal a meio da tabela
Até que ponto temos um dia-a-dia sustentável para o ambiente? Esta pergunta pode resumir o estudo que desenvolvemos com outros 13 países, para estabelecer um índice de comportamento sustentável dos consumidores.
- Especialista
- Ana Almeida
- Editor
- Ricardo Nabais e Alda Mota

Em conjunto com as associações de consumidores de outros 13 países, juntámos um painel de especialistas para estabelecer que peso teriam certos comportamentos em cinco áreas cruciais para a sustentabilidade: alimentação, viagens e mobilidade, água e energia para uso doméstico, compra de produtos não-alimentares e serviços e, ainda, gestão de resíduos. Com base nas respostas dos consumidores a na importância atribuída pelos especialistas, construímos um índice de comportamento sustentável. Ficámos com um índice global de 50, numa escala de 0 a 100, a meio da tabela.
Mas, felizmente para a nossa reputação ecológica, as coisas não são assim tão simples. A nossa pontuação de 50 ficou relativamente próxima do total de 57 obtido pela Áustria, que conseguiu os resultados mais elevados. Também acima da média ficaram a França, a Eslovénia, a Alemanha e Espanha. Rússia, Dinamarca, República Checa e Canadá foram os piores classificados.
O nosso país está acima da média em viagens e mobilidade, e na área da água e energia. Nos restantes três critérios e no índice geral, encontra-se na média.
Hábitos de poupança em casa
Em termos globais, 71% dos inquiridos consideram ter hábitos de poupança de energia em casa. Já 61% preferem produtos (não-alimentares) que sejam de melhor qualidade, durem mais tempo e possam ser reparados. Por sua vez, 26% afirmam reutilizar produtos pelo maior tempo possível e 25% dizem que tentam reduzir ou evitar o desperdício de alimentos. Quanto à questão das viagens e da mobilidade, 15% afirmam fazer, no dia-a-dia, apenas deslocações a pé, de bicicleta ou de transportes públicos. Este item é, aliás, aquele a que os portugueses atribuem menos importância no conjunto: apenas 22% dos que responderam ao inquérito consideram muito importante para um comportamento sustentável não ter um carro. Para os nossos especialistas, era o segundo critério mais importante... raramente houve encontro, aliás, entre as perceções dos consumidores e as dos especialistas em relação a cada uma das áreas. A única exceção foi a questão da compra de produtos não-alimentares e serviços. Água e energia para uso doméstico é a área a que os portugueses atribuem mais importância, seguidas pela gestão de resíduos e alimentação.
Mais de metade dos inquiridos consideram-se bem informados sobre as questões da sustentabilidade, enquanto 35% afirmam estar razoavelmente informados.
Tendências nacionais sobre sustentabilidade
Poucos são os que se afirmam vegans ou vegetarianos (não ultrapassam os 3% dos inquiridos), enquanto apenas 27% afirmam consumir carne e produtos de origem animal sem se preocuparem em reduzir esse consumo. Ainda no capítulo da alimentação, 25% dizem tentar reduzir quase totalmente o desperdício alimentar.
A consciência ecológica entre os consumidores nacionais na área da mobilidade traduz-se em 33% de participantes no inquérito que afirmam evitar fazer viagens de avião. As deslocações a pé, em bicicleta ou através de transportes públicos são privilegiadas por quase 15% dos inquiridos, enquanto 86% afirmam usar carro próprio. Apenas 21% dizem utilizá-lo apenas quando necessário. A esmagadora maioria desses veículos (94%) usam combustíveis fósseis (gasóleo ou gasolina).
Apenas 11% dos inquiridos revelam ter as suas casas termicamente bem isoladas (uma forma de aumentar a eficiência energética nos edifícios). A poupança de energia e de água em casa é um aspeto bastante considerado, já que mais de metade (71%) afirmou que muitos dos seus comportamentos vão nesse sentido.
Quanto a produtos não-alimentares e serviços, os portugueses parecem estar conscientes de tentar evitar o excesso de consumo: 62% dos inquiridos garantem que fogem de hábitos de consumismo, não comprando além do necessário. E dizem preferir produtos mais caros, mas de maior duração, quase na mesma proporção (61%).
Já no que diz respeito à gestão de resíduos, 67% dos participantes no inquérito fazem durar o mais possível os produtos que compram, e 56% preferem reparar produtos em vez de comprar novos.
A reciclagem aparece como fator fundamental da gestão de resíduos em casa. É de 64% a percentagem de consumidores portugueses que dizem fazê-la adequadamente.
O preço é uma barreira
Também pedimos que nos indicassem os obstáculos a comportamentos mais sustentáveis. O preço aparece, quase de forma unânime, como a barreira mais difícil de ultrapassar em quase todas as áreas, à exceção da gestão de resíduos domésticos, onde a falta de infraestruturas ou serviços é a razão mais apontada. Na alimentação, por exemplo, quase metade considera o custo dos alimentos sustentáveis uma barreira para a mudança de comportamento a este nível. O mesmo se verifica na área de compra de produtos e serviços: 41% afirmam serem caras as alternativas sustentáveis. Um pouco menos (38%) dos que acreditam que o preço é a principal barreira para alternativas em viagens e mobilidade, enquanto 33% apontam os custos para a transição para energias mais sustentáveis em casa.
O nosso estudo
Um inquérito online foi enviado para a população em geral dos 18 aos 74 anos, entre setembro e outubro de 2021, nos 14 países participantes. A amostra foi ponderada por género, idade, região e nível de escolaridade, para refletir as diferentes realidades nacionais. No total, recebemos 14 817 respostas, das quais 1232 com origem em Portugal. Os resultados espelham as opiniões e experiências dos inquiridos.
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