Dieta Dukan: não funciona em 80% dos casos

A popular dieta Dukan recebeu um duro golpe com os resultados do primeiro inquérito alargado: ao fim de 4 anos, 80% dos pacientes recuperam todo o peso perdido com o regime.
O método do nutricionista francês Pierre Dukan promete perda de peso dramática e duradoura, mas tem acumulado críticas e avisos de autoridades de saúde e científicas.
Tanto a Agência de Segurança Alimentar e Nutrição como a Associação Espanhola de Dietistas e Nutricionistas consideram pertinente alertar para os efeitos nocivos da dieta Dukan, cada vez mais popular devido a uma estratégia de marketing inteligente e forte presença dos livros de Pierre Dukan nas lojas.
Também na França, os especialistas da Agência Nacional de Segurança Alimentar desencorajam o consumidor a aderir a este "regime desequilibrado” e chegam a associá-lo ao possível desenvolvimento de cancro e de doenças cardiovasculares a longo prazo.
Mais perigos do que milagres Mas os riscos da perda rápida de peso superam as vantagens:
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Primeiro inquérito alargado sobre o método Dukan
A escassez de estudos científicos sobre o método de Dukan levou o grupo francês CCM Benchmark, reconhecido na investigação e informação sobre nutrição, a realizar um extenso inquérito. Principal objetivo: analisar se as pessoas que seguiram esta dieta (principalmente mulheres) foram capazes de perder peso e mantê-lo ao longo dos anos.
Cerca de 5 mil "dukanianos" responderam ao inquérito e os resultados foram publicados na revista médica Obésité, de junho. Os resultados falam por si.
Além dos efeitos secundários perigosos e contraindicações, a dieta Dukan serve para perder peso, por vezes, demasiado. Mas algum tempo depois todos os quilos são recuperados:
- menos de 1 ano, em 35% dos entrevistados;
- passado 1 ano, em 48% dos entrevistados;
- após 2 anos, em 64% dos entrevistados;
- após 3 anos, em 70% dos entrevistados;
- após 4 anos, em 80% dos entrevistados.
Estes dados reforçam os resultados dos poucos estudos científicos anteriormente existentes sobre a dieta Dukan. Numa análise de 2009, as autoridades francesas foram ainda mais taxativas: 80% dos pacientes recuperam o peso durante no ano seguinte à conclusão do método Dukan. E o estudo de Anderson, de 2001, destaca que a recuperação de peso é acelerada nos anos seguintes.
Se não conseguir, a culpa é sua
O inquérito da CCM Benchmark apresenta um cenário pouco animador: quase metade das pessoas que aderem à dieta Dukan recupera o peso perdido após um ano. Outros dados indicam que, a médio e longo prazo, este método é tão ineficaz como outras dietas restritivas.
Uma das principais razões deve-se ao facto de muitos não conseguirem atingir a chamada fase de "estabilização", que serve para consolidar e manter a perda de peso. Dois terços dos "dukanianos" que fracassam durante o regime não chegam sequer a estabilizar. Pior: 60% atribuem a si próprios o peso dessa falha.
Sentimentos de culpa são consequências psicológicas associadas a dietas restritivas, e estão sobejamente documentadas na literatura científica. Outras incluem baixa autoestima e sintomas depressivos. Alheio a todas as críticas, Pierre Dukan apresenta o seu método como um esforço de superação: se falhar, a culpa é sua; se conseguir perder ou manter peso, tal deve-se ao mérito do autoproclamado "nutricionista mais lido de todos os tempos em França."
Teoria da conspiração e efeito ioiô
A resposta de Pierre Dukan a estas críticas e alertas é desconcertante. Em vez de refutar com argumentos, fala de uma conspiração contra si, organizada por médicos, nutricionistas e autoridades de saúde... Na Internet e redes sociais, difundiu-se a ideia de que o método tem crescido graças ao simples “passa a palavra”, sem a ajuda de campanhas promocionais. É ainda possível encontrar relatos onde se garante que os livros de Dukan são gratuitos, algo difícil de conciliar com a sua presença nas estantes mais visíveis das grandes livrarias e supermercados de Portugal e Espanha.
Os especialistas falam de "sobrecarga significativa no corpo" nas pessoas que seguem a dieta Dukan. Um terço das que fracassam volta a tentar novamente a dieta Dukan, de acordo com o inquérito da CCM Benchmark. Uma dieta viciante? É o chamado efeito ioiô: o obeso cai num ciclo vicioso em que primeiro perde muito peso num curto espaço de tempo, depois o recupera e culpabiliza-se e, finalmente, regressa para os braços do seu nutricionista e tudo recomeça.
Menos dogmas, mais realismo
A DECO desaconselha a dieta Dukan e todas as outras restritivas devido aos efeitos indesejáveis. Tal como afirma Boris Hansel, endocrinologista no hospital parisiense Pitié-Salpêtrière, "Se precisa de uma perda significativa de peso deve consultar um especialista em obesidade. Quando se trata de perder alguns quilos, há que evitar dietas restritivas e sugerir uma mudança no estilo de vida, com especial ênfase na atividade física." Atividade física moderada e progressista, que o ajude a por em forma sem perder o fôlego.
Promessas por cumprir: uma questão de fé?
A incredulidade de muitos "dukanianos" faz com que sigam o seu “líder” sem dar crédito às repetidas advertências das autoridades. O endocrinologista Boris Hansel explica: "É compreensível que as pessoas procurem um tratamento eficaz a curto prazo. É tentador seguir este tipo de regimes populares e com resultados à vista rápidos. Em contrapartida, por em causa o estilo de vida é muito mais difícil, demorado e os efeitos menos espetaculares. Não é culpa das pessoas, é humano."
Os nutricionistas explicam que a eliminação de hidratos de carbono prescrita por Dukan provoca em primeiro lugar uma grande perda de água, depois massa muscular, e só no final se perde gordura.
A dieta Dukan é vendida como uma solução para o nosso estilo de vida, algo que dura "para sempre", mas a realidade é mais dura: 80% das pessoas que seguiram este regime recuperaram todo o peso perdido até 4 anos depois de o iniciar. Factos que não encaixam no milagre de Pierre Dukan.